sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

“ALL I HAVE TO DO IS DREAM” – THE EVERLY BROTHERS


Certa vez John Lennon disse que os Beatles deveriam se chamar The Foreverly Brothers devido à influência recebida da dupla norte-americana The Everly Brothers. E não foram só os Beatles que sofreram influência no modo de cantar e tocar dos irmãos Don e Phil Everly. Outros grupos que tiveram The Everly Brothers como modelo de cantar foram The Byrds, The Eagles, Gram Parsons, influência que se estendeu até os Bee Gees. Simon & Garfunkel confessaram que a dupla só existiu porque ouviram muito os irmãos Everly, a quem homenagearam cantando diversos hits gravados nos anos 50. Um dos maiores sucessos do The Everly Brothers e do ano de 1958 foi “All I Have To Do Is Dream”, que resultou num Golden Record para a dupla. [Assista o vídeo abaixo]



Phil e Don Everly
Sucesso desde o início da carreira - Ex-meninos prodígios, filhos de pais músicos e cantores (e primos do ator James Best), os irmãos Phil e Don Everly foram lançados pela pequena gravadora Cadence, de propriedade de Archie Bleyer. Após contratá-los, Bleyer praticamente os obrigou a gravar uma canção que havia sido rejeitada por mais de 30 artistas, entre eles Elvis Presley. A música se chamava “Bye Bye Love”, de autoria do casal de compositores Felice e Boudleaux Bryant e a animada gravação do The Everly Brothers fez sucesso nas paradas, chegando ao segundo posto do hit parade em julho de 1957, isto porque Elvis dominava inteiramente a lista dos discos mais vendidos. Quando o Rei do Rock parou para respirar a dupla The Everly Brothers chegou ao primeiro posto por uma semana, em outubro de 1957, com “Wake Up Little Susie”. Essa canção, também de autoria de Felice e Boudleaux Bryant só não vendeu mais por ter sido proibida em alguns Estados que entenderam que havia sentido malicioso quando o rapaz pedia a Susie para ela se acordar, como se estivessem dormindo juntos. Que tempos aqueles, heim! As composições do casal Bryant pareciam ser feitas para as vozes e estilo do The Everly Brothers e de fato eram. E o grande sucesso veio em maio de 1958 com “All I Have To Do Is Dream”, também dos Bryant, gravação que permaneceu durante meses entre as mais vendidas e durante quatro semanas em primeiro lugar.

Acima Felice e Beaudleaux Bryant;
abaixo selos do 78' e do 45'.
Encontro com o casal Bryant - Entre as composições de Felice (cujo verdadeiro nome era Matilda) e Boudleaux Bryant gravadas pelos irmãos Everly estão sucessos como “Problems”, “Take a Message to Mary”, “Bird Dog”, “Devoted to You” e “Love Hurts”. Porém foi com “All I Have To Do Is Dream” que Don e Phil atingiram o momento mais poético de seu repertório ao cantar a tristeza do apaixonado que só pode sonhar com sua amada enquanto vê a vida passar. As vozes bonitas dos irmãos em perfeita harmonia, sendo a de Don a mais alta (barítono) e a de Phil a mais baixa (tenor) encantaram e fizeram sonhar os jovens enamorados daqueles anos finais da década de 50. Além de cantar excepcionalmente bem, os irmãos eram exímios guitarristas e criaram um estilo que só não pode ser chamado de inimitável porque foram por demais imitados. E falando em grandes guitarristas, talvez o maior daquela época tenha sido Chet Atkins que participou da gravação de “All I Have To Do Is Dream” realizada no dia 6 de março de 1958. Foram necessários apenas dois takes para realizar a gravação tal o entrosamento dos irmãos. Essa composição dos Bryant foi lançada em discos 45 e 78 rotações que ainda eram vendidos. Após ser lançada, em maio, ocorreu aquilo que pouquíssimos cantores conseguiam, ou seja, “All I Have To Do Is Dream” não precisou escalar gradativamente o Billboard uma vez que apareceu na parada já em primeiríssimo lugar. E não era para menos pois do lado B daquele compacto simples tinha “Claudette”, composição de Roy Orbison. E no Reino Unido “All I Have To Do Is Dream” atingiu também o primeiro lugar onde permaneceu por seis semanas.

Os Everlys, uma família musical; abaixo Ike e Margareth Everly; acima à direita
Don Everly, o produtor Wesley Rose, Beaudleaux Bryant e Phil Everly; abaixo Chet Atkins.

Inúmeras regravações - A lista de regravações de “All I Have To Do Is Dream” é enorme, merecendo lembrar que a canção foi gravada por Richard Chamberlain, The Nitty Gritty Band, Roy Orbison, R.E.M., Dwight Yoakam e Elvis Costello, entre outros. Música preferida para ser cantada por duplas, “All I Have To Do Is Dream” foi gravada também por Bobbie Gentry-Glenn Campbell, Andy Gibb-Victoria Principal, Linda Ronstad-Kermit the Frog e Jeff Bridges-Karen Allen. Com todo respeito a esses talentosos artistas, nenhum deles superou o original que teve arranjo simples e delicado como a própria canção. Phil Everly regravou “All I Have To Do Is Dream” em dupla com o inglês Cliff Richard em 1994, gravação essa que atingiu o 14.º posto do hit parade britânico.

Calma, rapazes...
A separação - Durante um show realizado em Hollywood, em 1973, Don Everly apareceu bêbado para cantar, errando as letras e acordes das canções, até que Phil num momento de nervosismo quebrou seu violão na cabeça do irmão. Passaram dez anos sem se falar, o que só aconteceu por ocasião do funeral de Ike Everly, o pai de Phil e Don. Após esse reencontro a dupla participou de tournée apropriadamente chamada “The Everly Brothers Reunion Concert”. O show no Albert Hall, em Londres, foi filmado e transformado em DVD e CD. Após se separarem, os irmãos tentaram carreiras solo e o mais bem sucedido foi Phil Everly que gravou “Everytime You Leave” em dueto com Emmylou Harris e o álbum ‘Phil Everly’, acompanhado por Mark Knopfler. No filme “Doido para Brigar, Louco para Amar”, estrelado por Clint Eastwood, Phil canta em dueto com Sondra Locke a canção “Don’t Say You Don’t Love no More”, de autoria do próprio Phil. Para a sequência desse filme de Clint, que se chamou “Punhos de Aço”, Phil Everly pode ser visto no palco atrás de Sondra Locke quando esta canta “One Too Many Women in Your Life”, também de autoria de Phil.

Legado musical - Isaac Donald Everly (Don) nasceu em 1937 e Phillip Everly (Phil) em 1939 e como dupla The Everly Brothers entrou para o Hall da Fama do Rock and Roll, sendo introduzidos na cerimônia nada menos que por Neil Young, um dos maiores nomes de todos os tempos do Rock. Em 1997 os irmãos Everly receberam o prêmio Grammy Lifetime Achievement Award pela extraordinária contribuição que deram à música. Em 2001 Don e Phil foram introduzidos no Country Music Hall of Fame pela pioneira contribuição que deram ao Rock-a-billy. Esses importantes prêmios representam um justo reconhecimento pela produção artística do The Everly Brothers e pela influência que legaram à música no século passado. E nada melhor que ouvir as 26 canções da dupla que ficaram entre as mais vendidas (Top 40) através dos anos, especialmente a Golden Record “All I Have To Do Is Dream”.



ALL I HAVE TO DO IS DREAM
(Beaudleaux e Bryant)

Dream, dream, dream, dream, dream, dream, dream
When I want you / In my arms
When I want you / And all your charms
Whenever I want you all I have to do is dream...
          When I feel blue / In the night
          And I need you to hold me tight
          Whenever I want you
          All I have to do is dream...
I can make you mine / Taste your lips of wine
Any time / Night or day
Only trouble is / Gee whiz
Im dreaming my life away
          I need you so / That I could die
          I love you so / And that is why
          Whenever I want you all I have to do is dream...
I can make you mine / Taste your lips of wine
Any time / Night or day
Only trouble is / Gee whiz
Im dreaming my life away
          I need you so / That I could die
          I love you so / And that is why
          Whenever I want you all I have to do is dream...



Listas do Hit Parade norte-americano nos meses de abril, maio e junho de 1958.
Nota-se que "All I Have to do Is Dream" entrou na lista já em primeiro lugar.

No Reino Unido, "All I Have to do Is Dream" atingiu o primeiro posto do Hit Parade em
julho de 1958, permanecendo em primeiro lugar em agosto e caindo para 6.º em setembro.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

“EVERYBODY LOVES SOMEBODY” – DEAN MARTIN


Em 1964 ocorreu o fenômeno ‘The Beatles’ no Hit Parade norte-americano e o quarteto de Liverpool emplacava um sucesso atrás do outro. O primeiro foi “I Want to Hold Your Hand”, que ficou sete semanas em 1.º lugar. Quando uma música dos Beatles deixava o primeiro posto logo surgia outra para ocupar aquela posição nas paradas. Foi assim com “She Loves You”, “Can’t Buy me Love”, “Love me Do” e “A Hard Day’s Night”. Cantores românticos como Bing Crosby, Tony Bennett, Frank Sinatra, Perry Como, Andy Williams e Dean Martin pareciam ultrapassados e condenados aos palcos de Las Vegas se quisessem sobreviver pois seus discos vendiam cada vez menos. O mercado consumidor era cada vez mais dominado por jovens alucinados pela música dos Beatles, sobrando espaço ainda para outros grupos ingleses como The Dave Clark Five, Animals, Billy J. Kramer, Manfred Mann, The Searchers (também de Liverpoll), os afilhados dos Beatles Peter & Gordon e até cantoras como Dusty Springfield. Surpreendentemente, quem destronaria os Beatles por uma semana seria um daqueles cantores fora de moda chamado Dean Martin.

Dean Martin era cantor e formara nos anos 40 uma dupla com Jerry Lewis que causava sensação no show-business. Levados para Hollywood seus filmes se tornaram enormes sucessos, até que em 1956 decidiram se separar. Como o engraçado da dupla era Jerry Lewis, não faltou quem dissesse que a carreira de Dean Martin como ator estava encerrada. Jerry Lewis passou a fazer sucesso sozinho e Dean Martin, ao contrário do que se suspeitava, provou ser bom ator dramático. Isso ocorreu em filmes como “Os Deuses Vencidos” (ao lado de Marlon Brando e Montgomery Clift), “Deus Sabe Quanto Amei” (com Frank Sinatra) e principalmente em “Onde Começa o Inferno” (com John Wayne). Quando a propalada genialidade de Jerry Lewis deixou de existir e ninguém mais queria ver suas comédias, Dean Martin estrelava de dois a três filmes por ano. Martin que não levava nada a sério, nem a si mesmo, chegou até interpretar um agente secreto (Matt Helm) aproveitando o filão aberto por James Bond. Se a carreira de ator de Dean Martin ia bastante bem, o mesmo não se pode dizer dele como cantor.

Dean e Jerry Lewis; à direita Montgomery Clift, Marlon Brando e Dean Martin
 durante as filmagens de "Os Deuses Vencidos".

Bing Crosby e Dean Martin
Descendente de italianos (seu nome verdadeiro era Dino Paul Crocetti), Dean Martin foi um dos grandes vendedores de discos dos anos 50, emplacando numerosos sucessos como “You Belong to Me”, “Return to Me”, “Volare” e principalmente “That’s Amore” (1953) e “Memories Are Made of This” (1955), estas duas últimas tendo alcançado a 1.ª posição nas listas das mais vendidas. Dean Martin, assim como praticamente todos os cantores que começaram a cantar nos anos 30 e 40, foi influenciado por Bing Crosby. Poucos porém conseguiram assimilar aquele jeito casual de dizer o fraseado musical de Crosby como Dean Martin. Talvez até porque na vida real Dino era assim mesmo, parecendo não levar nada a sério mas fazendo tudo com perfeição e profissionalismo. Com sua voz melodiosa Dean Martin se especializou em cantar canções que falavam das coisas da Itália, mas bastante eclético Dino agradava cantando músicas country como “Rio Bravo”, tema do western “Onde Começa o Inferno”. Mas jamais Dean Martin se afastou do cancioneiro clássico norte-americano, na linha de Frank Sinatra, de quem se tornou amigo inseparável.

Em 1962 Frank Sinatra fundou sua própria gravadora, a Reprise Records e Dean Martin deixou a Capitol onde estava há vários anos, passando para a gravadora do amigo Sinatra. Embora gravando regularmente os LPs de Dean Martin tinham vendas modestas sendo destinados às coleções daqueles fãs verdadeiros da boa música norte-americana. Em 1964 Dean Martin gravou o LP “Dream With Dean”, composto por aquelas canções que ele costumava cantar com grande agrado nos night-clubs. Dino já havia gravado onze músicas, faltando a 12.ª para completar o álbum, cujo condutor da orquestra era o pianista-maestro-arranjador Ken Lane. Também compositor, Ken Lane disse a Dino para gravar “Everybody Loves Somebody”, aquela canção que Lane havia composto em parceria com Irving Taylor em 1949, quando trabalhava com Frank Sinatra. Por sinal o ‘The Voice’ foi o primeiro cantor a gravar “Everybody Loves Somebody”, sendo seguido depois por Peggy Lee, Dinah Washington e outros artistas. Porém nenhum deles conseguiu tornar a música um sucesso. “Everybody Loves Somebody” era originalmente uma canção de andamento romântico e, diferentemente das gravações anteriores, Dean Martin adaptou a canção para seu estilo mais descontraído e como era uma gravação para completar um disco percebe-se que Dino está mais solto e à vontade que nunca nessa interpretação. Ele mesmo acreditava que ninguém levasse “Everybody Loves Somebody” a sério.



A Reprise Records por sua vez não fez nenhum esforço para promover “Everybody Loves Somebody” que, por um desses mistérios do mercado fonográfico, começou a ser executada por algumas rádios. Primeiro em New Orleans, depois em Worcester (Massachussets) e daí foi se espalhando e sendo cada vez mais pedida. Percebendo a possibilidade de moderado sucesso, a Reprise lançou um compacto simples com “Everybody Loves Somebody”, disco que apareceu pela primeira vez entre as 100 mais vendidas em 72.º lugar, em 27/06/64. O novo sucesso dos Beatles era “A Hard Day’s Night”, música-título do primeiro filme do The Fab Four. E o que parecia impossível aconteceu quando galgando pouco a pouco as posições principais do Hit Parade, “Everybody Loves Somebody” atingiu o 1.º lugar como música mais vendida na semana de 15 de agosto de 1964. Dean Martin voltava a conhecer o sabor de um verdadeiro sucesso musical e numa situação totalmente adversa que se rendeu a seu talento.

Com o sucesso de “Everybody Loves Somebody”, pensou-se logo em produzir um show semanal de televisão, o “The Dean Martin Show”, cujo tema musical era justamente “Everybody Loves Somebody”. O programa de TV que parecia ter sido produzido apenas para aproveitar o momentâneo sucesso musical de Dean Martin agradou em cheio e revelou-se o talento de apresentador do ator-cantor. Ken Lane foi o responsável pela parte musical do “The Dean Martin Show” que permaneceu por nove temporadas no ar (1965-1974) e Martin em alguns anos foi o artista que mais dinheiro ganhava no show-business com a venda de seus discos, apresentações em Las Vegas e em casa noturnas, filmes e seu programa de televisão. Nem Frank Sinatra ganhava tanto como Dean Martin, o que em nada mudava o estilo bon vivant de quem não levava nada a sério do ex-boxeador Kid Crochet, ele mesmo, Dean Martin. Sucesso de vendas também na Inglaterra e no Canadá (e mesmo no Brasil), “Everybody Loves Somebody” se tornou uma espécie de marca registrada de Dean Martin, rendendo mais um Golden Records a esse que foi um dos maiores artistas norte-americanos do século 20.


A abertura do "The Dean Martin Show"; Dean com Ken Lane ao piano;
Dean Martin e John Wayne num momento antológico da televisão interpretando
"Everybody Loves Somebody" que pode ser assistido no vídeo abaixo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

"THE GREAT PRETENDER" - THE PLATTERS


Uma máquina Juke-Box.

Nos anos 50, nos Estados Unidos, havia quatro formas de paradas de sucesso: a) a dos discos mais vendidos; b) a dos discos mais tocados pelos disc-jockeys; c) a dos discos mais tocados nas juke-boxes; d) a dos discos Top-100. Juke-boxes eram as máquinas espalhadas por todo os Estados Unidos e nas quais colocando-se uma ficha e selecionando o disco, a máquina buscava o compacto tocando-o por uma vez. As juke-boxes viraram uma verdadeira febre entre os jovens pois elas ficavam em lugares frequentados pelos playboys e playgirls onde eles passavam horas ouvindo música e tomando Coca-Cola. Já a parada de sucessos denominada Top-100 tabulava uma combinação das três outras paradas de sucesso. Por duas semanas do mês de fevereiro de 1956 a gravação “The Great Pretender”, do conjunto vocal The Platters conseguiu a proeza de ser a primeiríssima colocada do Top-100 norte-americano. E na lista semanal dos discos mais vendidos da revista Cash-Box, “The Great Pretender” foi a primeira colocada por três semanas consecutivas. Essa gravação permaneceu por 17 semanas entre as mais vendidas e foi o quarto disco mais vendido em 1956, ultrapassando um milhão de cópias e dando o segundo Disco de Ouro para os Platters.





A lista dos artistas que chegaram ao topo das listas de discos mais vendidos em 1956 foi formada por Tennessee Ernie Ford com “Sixteen Tons” – Dean Martin com “Memories are Made of This” – Kay Starr com “Rock and Roll Waltz” – Nelson Riddle e Orquestra com “Lisbon Antiqua” – Les Baxter e Orquestra com “The Poor People of Paris” – Morris Stoloff e Orquestra com “Moonglow” – Gogi Grant com “The Wayward Wind” – Pat Boone com “I Almost Lost My Mind” – Guy Mitchell com “Sing the Blues”. The Platters esteve duas vezes no topo da lista  com “The Great Pretender” e “My Prayer” e Elvis Presley ficou 22 semanas em primeiro lugar com “Heartbreak Hotel”, “Hound Dog”, “Don’t Be Cruel” e “Love me Tender”. Entre tantos artistas brancos, apenas os Platters eram negros, por sinal foram eles os primeiros cantores negros a chegar ao primeiro lugar da parada Pop (popular) norte-americana, quebrando a escrita segundo a qual essa honra era, até então, reservada apenas para os artistas brancos. Cantores negros frequentavam unicamente as paradas Rhythm and Blues (R&B) ou Country and Western (C&W).

Gogi Grant, Dean Martin, Tennessee Ernie Ford e Kay Starr.

Acima, à esquerda, Buck Ram.
Há exatos 60 anos, em 1953, nascia o quarteto vocal The Platters, com uma formação da qual apenas David Lynch fazia parte do grupo que explodiria nas paradas de sucesso já no final de 1955. Como quarteto os Platters gravaram alguns discos na pequena Federal Records, da qual eram contratados, entre eles a primeira versão de “Only You”. Mas o sucesso somente veio depois que o empresário e compositor Buck Ram passou a gerenciar a vida artística do grupo. Foi Buck Ram quem trouxe para o The Platters os cantores Paul Robi, Herb Reed (o vozeirão que fazia o baixo), Tony Williams e transformou o grupo em quinteto, com a jovem Zora Taylor, então com apenas 15 anos de idade. Buck Ram conseguiu que o The Platters fosse contratado pela Mercury Records e fez o grupo regravar “Only You”, com novo arranjo. A esposa do vocalista Tony Williams trabalhava como secretária de um disc-jockey em Los Angeles e este com seus contatos conseguiu que o disco fosse executado nas rádios e logo começaram os pedidos das lojas para comprar “Only You”. Essa gravação chegou às paradas de sucesso em outubro de 1955, permanecendo 18 semanas entre as mais vendidas e chegando ao 5.º lugar. “Only You” rendeu ao grupo o primeiro Disco de Ouro e tornou o The Platters conhecido em todo o país, fazendo shows por todo os Estados Unidos. Mas faltava uma música que desse um novo Disco de Ouro ao grupo e essa música, foi “The Great Pretender”, escrita por Buck Ram. Segundo ele, a música foi escrita em 30 minutos, na lavanderia do Hotel Flamingo, em Las Vegas. A sessão de gravação de “The Great Pretender” foi realizada no dia 3 de novembro de 1955 e o disco foi lançado no final desse mês. Na semana de 4 de fevereiro de 1956 “The Great Pretender” já liderava a lista dos discos mais vendidos na América do Norte.


Em 1956, nos Estados Unidos os 78 rotações perdiam de goleada para os 45 rotações nas vendas de discos e por isso tinham seus dias contados. As gravações eram lançadas com selos de cores diferentes, obedecendo ao gênero de música gravada. O selo lilás (nos 78 ou nos 45 rpm) era para músicas do chamado ‘Rhythm and Blues’ (R&B), músicas destinadas às comunidades rurais negras e pobres. Com uma batida rítmica insistente, herdada dos ancestrais africanos, o R&B gerou os estilos soul, funk e variações do blues e da música gospel. Os discos com selo lilás possuíam parada de sucessos própria. Os discos com selos pretos eram destinados à chamada música ‘pop’, com predominância de artistas brancos. Havia ainda a ‘Country & Western’, cujos discos eram diferenciados dos demais com seus selos azuis. Curiosamente, quando Buck Ram apresentou “The Great Pretender” ao The Platters, a princípio Tony Williams se recusou a gravá-la dizendo que aquela era uma canção acaipirada e que ele não cantava country-music (C&W). Engraçado que depois de o disco ficar pronto a Mercury Records lançou “The Great Pretender” com o selo lilás, entendendo que a música era Rhythm and Blues. Percebendo o equívoco, duas semanas depois esses discos foram recolhidos pela gravadora e lançados com o selo preto (Pop). Um compacto simples de “The Great Pretender” com selo lilás é item raríssimo, valendo hoje uma pequena fortuna entre colecionadores.

Zola Taylor e Tony Williams.
O sucesso do The Platters continuou pelos próximos anos com “My Prayer”, “Smoke Gets in Your Eyes” e “Twilight Time”, músicas que também alcançaram o primeiro lugar do hit-parade nos Estados Unidos. Grandes sucessos do grupo foram também “Enchanted”, “Harbor Lights”, “I’m Sorry”, “You’ll Never know”, “(You’ve Got) That Magic Touch” e que juntamente com seus long-playings venderam mais de 50 milhões de discos no mundo inteiro. Em 1959 os quatro rapazes foram flagrados num hotel com maconha e prostitutas e foram presos. Esse fato abalou a reputação do The Platters mas o que colaborou mesmo para o declínio do grupo foram as saídas de Tony Williams e Zora Taylor, em 1960. Ambos tentaram carreira solo sem maior sucesso. Pode-se afirmar sem medo de errar que no Brasil os Platters faziam sucesso equivalente (ou até maior) que o próprio Elvis Presley. Isso explica porque tantas vezes o The Platters atual visita o Brasil e se exibe no mundo inteiro lembrando os antigos sucessos. David Lynch faleceu em 1981; Paul Robi em 1989; Tony Williams faleceu em 1992; Zora Taylor em 2007, aos 69 anos; Herb Reed foi o último do grupo, em sua formação mais famosa, a falecer, o que ocorreu em 2012. Buck Ram faleceu em 1991.


Dentre as dezenas de músicas dos Platters, o Brasil elegeu “The Great Pretender” como sua favorita. Nenhuma outra gravação do grupo foi mais regravada, seja no Brasil ou no exterior que “The Great Pretender”. Carlos Gonzaga gravou uma versão, intitulada “Meu Fingimento” e Raul Seixas também fez um registro de “The Great Pretender”. Talvez a mais famosa regravação dessa música tenha sido a de Freddie Mercury, em 1987, quando a composição de Buck Ram voltou às paradas de sucesso. Uma biografia de Freddie Mercury recebeu justamente o título “The Great Pretender”. Entre os artistas famosos que fizeram ‘covers’ de “The Great Pretender” estão Roy Orbison, Dolly Parton, Sam Cooke, Gene Pitney, Pat Boone, Gene Summers, The Band e Roy Clark. Mas é difícil que haja alguém com mais de 40 anos que nunca tenha cantado os versos dramáticos e desesperançosos de “The Great Pretender”, uma das canções clássicas de todos os tempos.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

"PRETTY WOMAN" – ROY ORBISON


O riff inicial de “Pretty Woman” é o mais marcante do rock ‘n’ roll e é impossível não se deixar contagiar pelo envolvente e trepidante andamento da canção. E mais que em qualquer outra música cantada por Roy Orbison ele está radiante e mais feliz que nunca. Rei dos melodramas soturnos e tristes que foram a marca maior de sua carreira como cantor, Orbison fala em “Pretty Woman” de uma mulher quase irreal de tão linda. Mulher irresistível com seu olhar, sorrir e caminhar. Essa mulher era Claudette Orbison, a própria esposa de Roy.

Roy Orbison com o amigo Bill Dees.
Roy Orbison estava em sua casa com seu amigo e compositor Bill Dees quando Claudette pediu dinheiro a Roy dizendo a ele que iria fazer compras. Bill Dees fez um disfarçado galanteio dizendo que “Mulher linda não precisa de dinheiro para fazer compras...” Roy disse a Bill que aquela frase poderia resultar numa canção. Claudette demorou 40 minutos e ao retornar Roy e Bill haviam composto “Pretty Woman”. A música levou uma semana para ser arranjada por Fred Foster, diretor artístico da pequena gravadora Monument Records, sendo gravada em 1.º de agosto. Distribuída no final desse mês, em setembro “Pretty Woman” desbancou “The House of the Rising Sun” (The Animals) que estava em primeiro lugar no Billboard. “Pretty Woman” permaneceu por três semanas no topo da lista dos discos mais vendidos, totalizando 14 semanas entre as Top-20. Ao final do ano a Monument Records contabilizou sete milhões de cópias vendidas de “Pretty Woman”. No Reino Unido Roy Orbison conseguiu a proeza de ser o artista não-britânico que quebrou, com “Pretty Woman”, a hegemonia dos cantores e grupos ingleses que há 68 semanas se revezavam na liderança do hit parade.


O vídeo acima mostra uma participação especial de Roy Orbison na série
*The Dukes of Hazzard", que no Brasil foi exibida como "Os Gatões".
Ao final de alguns episódios um grande nome da música country interpretava um
sucesso na taverna "Ninho do Javali". Por ali passaram Willie Nelson, Loretta Lynn
e muitos outros. Ao lado de Roy está uma verdadeira 'pretty woman', a atriz
Catherine Bach, a 'Daisy Duke' que encantava a pequena Hazzard.

Nascida em 1941, Claudette Frady acompanhava Roy Orbison em seus shows desde que tinha 16 anos. Mais velho que ela cinco anos, Roy e Claudette se casaram em 1958 e foi nesse ano que ela se tornou mais conhecida que o marido. Foi quando a dupla The Everly Brothers alcançou o primeiro lugar  do hit parade com o single “All I Have to do is Dream”, cujo lado B era a música “Claudette”. Essa deliciosa canção foi composta por Roy Orbison que, ainda pouco conhecido como cantor, preferiu entregá-la aos irmãos Don e Phil Everly. Depois de um começo de carreira difícil, especialmente porque o envergonhado Roy Orbison não possuía a boa pinta de Elvis, Ricky Nelson, Pat Boone e outros, Orbison estourou com “Only the Lonely”, em 1959, ganhando seu primeiro disco de ouro pelo milhão de cópias vendidas. Em 1961 Roy fez ainda mais sucesso com “Running Scared” e “Crying”. Mas seu estilo diferente de cantar mesclando sua voz de tenor com o uso primoroso de falsetes, interpretando canções de amor angustiadas, fizeram de Roy um grande ídolo na Inglaterra. E foi numa dessas tournês que Roy fazia na Inglaterra, confiando que Claudette estava tomava conta direitinho dos três filhos, que aconteceu uma infidelidade da esposa do cantor. Claudette estava incumbida também de comandar a construção de uma bela casa em Hendersonville, no Tennessee. Ela levou tão a sério a tarefa que acabou se envolvendo com o construtor, com quem teve um caso que chegou ao conhecimento do marido. Claudette já havia anteriormente tido outros amantes nas ausências de Roy, mas o caso com o construtor acabou em divórcio. A separação ocorreu em novembro de 1964, paradoxalmente quando “Pretty Woman” era cantada no mundo inteiro.

Roy Orbison e Claudette, sua bonita e pouco fiel esposa.

Roy Orbison tinha paixão por automóveis e por motocicletas. Em 1965 o cantor estava na Inglaterra quando sofreu um acidente de moto indo parar num hospital com o tornozelo fraturado e a perna engessada. Enquanto convalescia Roy recebeu a visita de Claudette no hospital e decidiram voltar a viver juntos, casando-se mais uma vez. Em 1966 Roy e Claudette passeavam de motocicleta quando a máquina em que ela estava foi atingida por um caminhão. A queda foi fatal para Claudette que faleceu nos braços do marido em 6 de julho de 1966. Mais ainda do que a canção “Claudette”, a esposa de Roy o inspirou para compor e cantar o maior sucesso de sua vida que foi “Pretty Woman”. Outra tragédia marcaria a vida do viúvo Roy Orbison quando, em 1968, sua casa se incendiou matando seus dois filhos mais velhos, escapando apenas o filho menor. Roy vendeu o que restou da casa para Johnny Cash. Em 1969 Roy se casou novamente. A nova esposa era uma jovem alemã de 21 anos chamada Barbara Jakobs, com quem Roy teve dois filhos e com quem viveu até falecer aos 52 anos em 1988. Barbara, por sua vez, faleceu em 2011, aos 60 anos de idade.

Acima Roy na infância, na adolescência e no início de carreira. Abaixo em duas fotos com
Claudette. Na foto maior está Barbara Orbison e os dois filhos que Roy teve com ela.

Bill (William Marvin) Dees, o amigo e letrista de Roy Orbison em quase uma centena de canções, entre elas “Pretty Woman”, faleceu em 2012, aos 73 anos. Bill Dees compôs com Roy “It’s Over”, outro grande sucesso de Orbison, além de canções interpretadas pelos mais famosos cantores da country music. Não se sabe quem fez o que em “Pretty Woman”, mas como autor dos versos da pequena historinha da moça que sai para passear, certamente a beleza de Claudette Orbison deve ter inspirado não apenas o marido, mas também o amigo Bill Dees. Roy Orbison começou sua carreira de cantor na Sun Records, ao lado de Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis que também começaram suas carreiras ali, guiados por Sam Phillips. Não conseguindo sucesso na Sun Records, Roy Orbison assinou contrato com a Monument Records, onde seu talento explodiu e ele vendeu bastante e ganhou muito dinheiro. Em 1967 Orbison assinou um contrato muito vantajoso com a MGM Records, com a promessa de fazer filmes, assim como Elvis vinha fazendo. O único filme que Orbison fez como ator foi “A Guitarra Mais Rápida do Mundo”, que poderia ser chamado também de ‘o fracasso mais rápido do mundo’.

Roy Orbison e Bill Dees segurando um dos muitos prêmios recebidos pelo sucesso de
"Pretty Woman". À direita Bill Dess pouco antes de falecer. Abaixo Carls Perkins,
Jerry Lee Lewis, Roy Orbison e Johnny Cash, lendas do rock 'n' roll que iniciaram suas
carreiras na Sun Records, tendo como colega Elvis Presley. 

Após deixar a MGM Records, Roy Orbison passou por diversas gravadoras, não conseguindo mais se reencontrar com o sucesso, o que só aconteceria no final de sua vida. Quando os Beatles e Roy Orbison excursionaram pela Inglaterra juntos, em 1963, na primeira noite, após se apresentarem, os quatro jovens músicos de Liverpool ficaram extasiados durante todo o show de Roy, assistindo e imaginando como um homem podia cantar como ele. Roy Orbison sempre teve muitos admiradores, alguns deles celebridades do mundo da música, gente como Bruce Springsteen, os Bee Gees, Bono Vox, Bob Dylan e muitos outros. Quando eles começaram a falar da influência que sofreram de Orbison, ou da admiração pelo cantor de “Crying”, as novas gerações passaram a prestar mais atenção em Orbison. Barry Gibb chegou a dizer que "...se Deus tivesse que ter uma voz essa voz seria a de Roy Orbison". Em 1988 foi formado o quinteto chamado The Traveling Wilburys (Orbison, Bob Dylan, George Harrison, Jeff Lynne e Tom Petty). Pretendendo apenas se divertir, gravaram um disco antológico que ganhou diversos prêmios e ficou um ano entre os álbuns mais vendidos. Adivinhem qual voz se sobressai entre todas ouvidas no disco?

Acima The Traveling Wilburys: Bob Dylan, Jeff Lynne, Tom Petty, George Harrison e Roy Orbison.
Abaixo no show "Black and White" Roy está acompanhado por James Burton, Jerry Scheff,

 Jackson Browne, Ronnie Tutt (bateria), Bruce Springsteen, T Bone Burnett e
 Elvis Costello, um timaço de fãs de Orbison homenageando seu ídolo.

O cinema também ajudou na (re)descoberta de Orbison, a partir de “Veludo Azul”, em que os dopadíssimos Dean Stockwell e Dennis Hopper ouvem “In Dreams”, numa sequência felliniana criada pelo diretor David Lynch. E finalmente em 1990 Hollywood iria assistir ao conto de fadas moderno intitulado “Uma Linda Mulher” (“Pretty Woman” no original), embalado pela vibrante canção cantada por Roy Orbison. Milhões de vezes, em todos os cantos do mundo, o riff de “Pretty Woman” introduzia a voz inconfundível e admirável de Roy Orbison, com direito a grunhido e gargarejo, coisa que nenhum cantor faria sem cair no ridículo. Com o sucesso estrondoso do filme estrelado por Julia Roberts e Richard Gere, Roy Orbison voltou a gravar, a se apresentar mais vezes e a vender muitos discos novamente. “Mistery Girl”, seu último álbum gravado em 1988, é o melhor de sua carreira, tendo a impecável produção de Jeff Lynne e é verdadeiramente antológico. É o disco que contém “You Got It”, a música preferida por nove entre dez publicitários e tantas vezes usada em propagandas. Tudo indicava que Roy Orbison faria muitos outros discos para emocionar os amantes da boa música. Porém em 6 de dezembro de 1988, após passar o dia brincando de aeromodelismo com seus filhos e após ter jantado com sua mãe em Hendersonville, o coração de Roy Orbison parou de funcionar. Roy sofreu um fulminante ataque cardíaco, falecendo aos 52 anos. A melhor frase sobre Roy Orbison pode ser aquela expressa por Elvis Presley: “Roy Orbison, e não eu, é o grande cantor do rock ’n’ roll”.

Fotos de encontro de Roy Orbison com os Beatles em 1963: Claudette Orbison dá uma
colherada a John Lennon enquanto o marido, o filho e Ringo observam; George Harrison
conversa com Roy; Lennon alimentando Roy, com Ringo Starr ajudando.


Participação especial de Roy Orbison em episódio da série "The Dukes of Hazzard".
Roy com Catherine Bach (Daisy Duke), Denver Pyle (Uncle Jesse Duke).
Sorrell Booke (Boss Hogg, o prefeito de Hazzard) aplica uma multa em Roy.

domingo, 7 de abril de 2013

“BLUE MOON” – THE MARCELS


O quinteto vocal The Marcels entrou no dia 15 de fevereiro de 1961 no estúdio da gravadora Colpix, braço da Columbia Records para artistas novos. Havia pouco tempo para The Marcels gravar seu primeiro compacto-simples com as músicas “Goodbye to Love” e “Zom, Zom, Zom”. Antes de começar a cantar, o The Marcels costumava fazer um aquecimento vocal com uma versão própria da clássica canção “Blue Moon”, de Richard Rogers e Lorenz Hart. E fizeram isso no estúdio, de um jeito peculiar que deixava a canção praticamente irreconhecível. O produtor Stu Phillips gravou “Goodbye to Love” mas não gostou do ensaio de “Zom, Zom, Zom”. Restavam apenas dez minutos do tempo reservado para a gravação e Stu sugeriu que os cinco rapazes gravassem uma música chamada “Heart and Soul”. Acontece que o The Marcels não conhecia “Heart and Soul” e propuseram gravar “Blue Moon” do jeito que eles usavam como aquecimento. Stu Phillips concordou até porque não havia tempo para mais ensaios. Foram feitos dois registros da gravação de “Blue Moon” pelo The Marcels.





Stu Phillips, diretor artístico da Colpix Records que produziu "Blue Moon" com The Marcels.

Um funcionário da Colpix ficou impressionado com o que ouviu e autorizado por Stu Phillips levou o acetato para o disc-jóquei Murray Kauffman, da rádio WINS. Kauffman tinha um programa radiofônico que começava à noitinha e se prolongava até o fim da madrugada e no início do programa tocou “Blue Moon” com The Marcels. O telefone da rádio não parou mais de tocar solicitando a repetição daquela gravação e Kauffman teve que tocar “Blue Moon” 26 vezes noite adentro. No dia seguinte todas as lojas de Nova York faziam pedidos do primeiro disco do The Marcels. A Colpix se apressou em editar a gravação e lançou o compacto no final de março, com “Blue Moon” entrando em 18.º lugar na lista dos 40 discos mais vendidos. No dia 3 de abril a gravação do The Marcels assumiu o primeiro lugar do hit-parade, desbancando “Surrender”, com Elvis Presley. “Blue Moon” ficou três semanas em primeiro lugar e um total de nove semanas entre as mais vendidas nos Estados Unidos. Na Inglaterra “Blue Moon” também atingiu o topo dos discos mais vendidos se transformando num grande sucesso.


Murray 'The K' Kauffman, o disc-jóquei que tornou famosa a gravação do The Marcels.

Mas nem tudo foi tão fácil para a espetacular carreira de “Blue Moon” pois Richard Rogers detestou o que The Marcels fez com sua música. O compositor publicou anúncios nos jornais pedindo para que ninguém comprasse aquele disco. Claro que o efeito foi exatamente o contrário, para desespero de Richard Rogers pois sua clássica canção tocava em todo lugar. “Blue Moon” foi composta por Richard Rogers e Lorenz Hart em 1933 e foi chamada primeiro de “Make me a Star” e depois de “The Bad in Every Man”. Finalmente, em 1935 recebeu novos versos e o título definitivo, sendo gravada por praticamente todos os grandes cantores norte-americanos, antes e depois da gravação do The Marcels. Billie Holliday, Bing Crosby, Frank Sinatra, Elvis Presley, Bob Dylan, Cliff Richard e Rod Stewart, entre outros gravaram “Blue Moon” que fez sucesso na voz de Mel Thormé, antes do The Marcels. “Blue Moon” fez parte da trilha musical de “Minha Vida é uma Canção”, de 1948, filme em que Mickey Rooney interpreta Lorenz Hart e Tom Drake é Richard Rogers. “Blue Moon” foi ouvida depois em 1949, em “Malaia” (com Spencer Tracy e James Stewart); em 1950 em “Mundos Opostos” (com Barbara Stanwyck); e em 1952, no filme “Meu Coração Canta” (com Susan Hayward). Em 1981 o cinema voltou a usar a “Blue Moon” no filme de John Landis “Um Lobisomem Americano em Londres”, ouvida na abertura na voz de Bobby Vinton e nos créditos finais com a gravação do The Marcels.


Rogers e Hart na capa da revista Time; Mickey Rooney interpretando Lorenz Hart ao lado de
Judy Garland, no musical da Metro "Minha Vida é uma Canção" (Words and Music).

Na década de 50, nos Estados Unidos, havia quase tantos grupos vocais quanto cantores e cantoras solos. The Marcels, de Pittsburgh, Pensylvania, era apenas mais um deles, com uma característica especial: era um grupo vocal interracial formado pelos negros Cornelius ‘Nini’ Harp, Ronald ‘Bingo’ Mundy e Fred Johnson e pelos brancos Gene Bricker e Richard Knauss. O repertório do The Marcels era todo composto por rhythm & blues, na esteira do sucesso de cantores como Fats Domino com seus hits “My Blue Heaven” e “Blueberry Hill”. O nome do grupo era uma referência a um tipo de penteado que andou em voga nos anos 40, chamado de ‘marcel’. Após o sucesso de “Blue Moon”, o grupo The Marcels gravou três compactos e um LP, que não venderam bem. Mesmo recriando a seu estilo canções famosas como “Over the Rainbow”, “Summertime” e “You Are My Sunshine”, The Marcels só era lembrado por “Blue Moon”. Foi quando os dois brancos do quinteto deixaram o grupo e Fred Johnson trouxe seu irmão Allen Johnson (barítono). Walt Maddox, outro negro completou o grupo, agora formado só por coloreds.


Acima a primeira formação do The Marcels, com Richard Knauss, Ronald 'Bingo' Mundy,
Gene Bricker, Fred Johnson e Cornelius 'Nini' Harp. Abaixo a segunda formação, sem os
brancos Richard Knauss e Gene Bricker, substituídos por Allen Johnson e Walt Maddox.

Em 1961 os membros do The Marcels participaram do filme “Dançando o Twist”, estrelado por Chubby Checker e Dion DeMucci. Nos anos seguintes ocorreram várias trocas de vocalistas e o repertório do The Marcels continuava fazendo novas versões de stardards como “That Old Black Magic”, “How Deep is the Ocean” e “In the Still of the Night”. The Marcels mudou de gravadora e trocou várias vezes de formação, mas nada disso trouxe de volta o sucesso conhecido com “Blue Moon”. E é essa música que prolongou por quase 50 anos a vida do grupo, apresentando-se para plateias que aplaudiam a afinação dos cinco senhores e esperando pelo momento de ouvir a famosa canção de Rogers & Hart. Daquele jeito que só The Marcels, com o mesmo Fred Johnson fazendo o fantástico e inconfundível baixo.