terça-feira, 3 de junho de 2014

“BREAKIN' UP IS HARD TO DO” - NEIL SEDAKA


Qual o mais impactante início de música da história do Rock (’n’ Roll)? Muitos dirão que é a introdução de “Satisfaction”, dos Rolling Stones; os beatlemaníacos não aceitarão outro começo melhor que não seja o de “Come Together”; fãs do The Who inconformados perguntarão sobre “Won’t Get Fooled Again”? E há tantos outros inícios de canções memoráveis como “Cocaine”, de J.J. Cale na versão de Eric Clapton; “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd e a pesadíssima “Smoke on the Water”, do Deep Purple que não podem ser esquecidas. No velho e bom rock ’n’ roll os mais antigos lembrarão da introdução composta por Chuck Berry para “Johnny B. Goode” ou da trepidante explosão inicial de “Pretty Woman”, de Roy Orbison. A esses célebres inícios de músicas pode-se juntar o graciosamente irresistível “Breakin' Up is Hard to Do”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield, canção que atingiu o primeiro lugar do hit parade norte-americano quando de seu lançamento em 1962.

No vídeo abaixo Neil Sedaka se apresenta em programa de televisão
em 1966 e canta seu maior sucesso, "Breakin' Up is Hard to Do".


Howard Greenfield, Neil Sedaka e
Connie Francis.
Parceria com o vizinho Howie - Neil Sedaka, descendente de judeus nascido no Brooklyn (N.Y.) e cujo nome verdadeiro é Neil Tzedakah, tornou-se conhecido em 1958 como o compositor de “Stupid Cupid”. Essa canção foi feita em parceria com seu vizinho Howie (Howard Greenfield), vizinho de Neil desde quando eram crianças e Neil aprendia piano num conservatório. O adolescente Neil fazia canções e o amigo da casa ao lado fazia as letras. A namorada de Neil, uma adolescente também judia chamada Carol Klein (mais tarde Carole King) incentivava e inspirava bastante o namorado. “Stupid Cupid” foi gravada por Connie Francis e se tornou a primeira música da dupla Sedaka-Greenfield a atingir as paradas de sucesso, vendendo mais no Reino Unido que nos Estados Unidos. No Brasil, em versão de Fred Jorge e com o título “Estúpido Cupido”, essa música lançou para o sucesso uma jovem cantora nascida em Campinas e criada em Taubaté chamada Celly Campello, adolescente que logo se tornaria a Rainha do Rock ’n’ Roll brasileiro.

Compacto simples de Celly Campello e seu primeiro grande sucesso; no centro Celly com
Neil Sedaka e o violonista é Theotônio Pavão (pai da cantora Meire Pavão);
à direita o compacto de Stupid Cupíd" com Connie Francis.

Carole King, a 'Carol' do sucesso
de Neil Sedaka.
Inspirado por Carole King - A dupla Sedaka e Greenfield não parava de compor e o pianista Neil decidiu que passaria a cantar suas composições, gravando “The Diary” que fez sucesso na Inglaterra e tocou pouco nos Estados Unidos. Mais uma vez o atento Fred Jorge fez uma versão chamada “O Diário” que foi gravada por Tony Campello, irmão de Celly e também por Carlos Gonzaga. Por aqui a gravação de Sedaka foi muito mais executada. Já conhecido como cantor-compositor, Neil Sedaka obteve sucesso com “Oh Carol”, que foi seguida por “Stairway to Heaven”, “Run, Samson Run”, “Calendar Devil”, “Little Devil” e “Happy Birthday Sweet Sixteen”. “Oh Carol” foi composta para Carol Klein e, como não poderia deixar de ser atingiu, o primeiro lugar da parada de sucessos mas na versão (de quem mais poderia ser?) de Fred Jorge cantada por Carlos Gonzaga. O primeiro LP de Neil Sedaka lançado no Brasil continha “Stupid Cupid”, “The Diary” e uma série de baladas românticas mescladas com rocks que Little Richard poderia cantar sem hesitar. “I Go Ape”, por exemplo, é um desses torpedos que não deixa ninguém ficar parado e merecia ser muito mais executada. Passado o impacto inicial desses êxitos musicais de Neil Sedaka, ele teria que esperar até 1962 para sentir o gosto do verdadeiro sucesso.

Tony Campello, que gravou diversas versões de canções de Neil Sedaka;
pôster da apresentação de Neil Sedaka na TV Record, em 1960;
capa do excepcional primeirolong-playing de Neil Sedaka que, infelizmente,
não contém o rock "No Vacancy", lado B de "Stupid Cupid".

Down, doo-be-doo-dow-down - Neil e Carole King já haviam deixado de ser namorados há bastante tempo e em 1962, aos 23 anos, Sedaka se casou com Leba Strassberg. Casadinho de novo ele tinha uma frase na cabeça: “Breakin' up is hard to do”, mas não conseguia desenvolver a melodia. Desta vez o parceiro Howard Greenfield não se entusiasmou muito em fazer uma letra com aquele tema, mas acabou atendendo Sedaka e a nova música ficou logo pronta. Isto é, quase pronta. Na véspera do dia da gravação Neil não conseguiu dormir pois sabia que faltava alguma coisa para aquela canção. E o insone Sedaka teve a ideia genial. Nem bem amanheceu o dia e Neil ligou para a RCA Victor pedindo ao arranjador Allan Lorber para começar a canção com o fraseado musical ‘Down doo-be-doo-down-down, comma, comma down...’. Lorber percebeu o grande achado de Neil e quando o cantor chegou ao estúdio para a gravação, às 12h30, estava tudo pronto e do jeito que Neil imaginara. Participaram da gravação na RCA Victor os guitarristas Al Casamenti, Art Ryerson e Charles Macy; Ernie Hayes tocou piano e George Duvivier tocou contrabaixo; Gary Chester foi o baterista, e a percussão ficou a cargo de George Devens e Phil Kraus, enquanto Artie Kaplan tocou saxofone. As cordas ficaram a cargo de Seymour Barab e Morris Stonzek (celos) e David Gulliet, Joseph H. Haber, Harry Kohon, David Sakson e Louis Stone (violinos). O coral foi feito pelo grupo vocal The Cookies. A canção recebeu o título “Breakin' up is Hard to Do”.

Greenfield e Sedaka assinando contrato com Don Kirschner; no centro as cantoras
do The Cookies, que fazem o backing vocal de "Breakin' Up is Hard to Do";
o casal Leba e Neil Sedaka ainda jovens.

Neil e Leba: casados
há 52 anos.
Number One, Neil! - Que a nova canção de Sedaka-Greenfield tinha potencial para o sucesso todos na RCA Victor perceberam assim que ouviram o ‘demo’. E a gravadora decidiu trabalhar com carinho o novo disco junto aos DJs. Mas nem havia necessidade disso! Qualquer pessoa que ouvisse apenas uma vez a introdução de “Breakin' up is Hard to Do” não iria esquecê-lo tão facilmente. Lançada em junho de 1961 a gravação apareceu logo em 13.º lugar na Billboard e na semana seguinte já estava em 1.º lugar, posição em que permaneceu por duas semanas, destronando o megahit “I Can’t Stop Loving You” do ‘The Genius’ Ray Charles. Neil Sedaka se encontrava em excursão pela Inglaterra, apresentando-se no London Palladium quando recebeu um telegrama de sua esposa Leba contando que “Breakin' up is Hard to Do” estava tocando no país inteiro. Não demorou e chega outro telegrama dizendo apenas: “Number One, Neil!”

Um Neil maduro.
Irresistível refrão - “Breaking up is Hard to Do” foi descrita pela ‘Allmusic’ (Bíblia da música norte-americana, hoje também em site) como “Dois minutos e dezesseis segundo de pura magia pop”. A alegria contagiante da canção se apossa de quem a escuta e a letra e melodia fáceis de serem cantadas não permitem que jamais Neil cante sozinho, mas sim acompanhado pelo(s) ouvinte(s). O arranjo de Allan Lorber deu um saboroso balanço à canção que parece nunca parar de crescer até que retorna ao irresistível refrão. “Breaking up is Hard to Do”, mais que qualquer outra canção é o próprio retrato musical de Neil Sedaka, artista sempre feliz, radiante e transmitindo isso a quem o assiste. Muitos outros artistas gravaram versões de “Breakin' up is Hard to Do”, merecendo ser lembrados Carole King, Tom Jones, Little Eva, Paul Anka, Andy Williams, The Four Seasons, Eydie Gourmet, Gloria Stefan, The Carpenters e Dee-Dee Sharp. Sylvie Vartan gravou uma versão em Francês com o título “Moi Je Pense Encore a Toi”.

CANTE JUNTO COM NEIL SEDAKA
Abaixo vídeo com a letra de "Breakin' up is Hard to Do"


Ainda em plena atividade - Neil Sedaka foi dos raros artistas que conseguiu retornar ao 1.º lugar do Billboard duas décadas depois e isso ocorreu com “Laughter in the Rain” em fevereiro de 1975. Aos 76 anos de idade e com quase 60 anos de carreira (e 52 de casamento com Leba) Neil Sedaka continua se apresentando pelo mundo e relembrando seus grandes sucessos, nunca deixando de levantar o público com a alegria de “Breakin' up is Hard to Do”.

Neil Sedaka em apresentação em 2009.