domingo, 7 de abril de 2013

“BLUE MOON” – THE MARCELS


O quinteto vocal The Marcels entrou no dia 15 de fevereiro de 1961 no estúdio da gravadora Colpix, braço da Columbia Records para artistas novos. Havia pouco tempo para The Marcels gravar seu primeiro compacto-simples com as músicas “Goodbye to Love” e “Zom, Zom, Zom”. Antes de começar a cantar, o The Marcels costumava fazer um aquecimento vocal com uma versão própria da clássica canção “Blue Moon”, de Richard Rogers e Lorenz Hart. E fizeram isso no estúdio, de um jeito peculiar que deixava a canção praticamente irreconhecível. O produtor Stu Phillips gravou “Goodbye to Love” mas não gostou do ensaio de “Zom, Zom, Zom”. Restavam apenas dez minutos do tempo reservado para a gravação e Stu sugeriu que os cinco rapazes gravassem uma música chamada “Heart and Soul”. Acontece que o The Marcels não conhecia “Heart and Soul” e propuseram gravar “Blue Moon” do jeito que eles usavam como aquecimento. Stu Phillips concordou até porque não havia tempo para mais ensaios. Foram feitos dois registros da gravação de “Blue Moon” pelo The Marcels.





Stu Phillips, diretor artístico da Colpix Records que produziu "Blue Moon" com The Marcels.

Um funcionário da Colpix ficou impressionado com o que ouviu e autorizado por Stu Phillips levou o acetato para o disc-jóquei Murray Kauffman, da rádio WINS. Kauffman tinha um programa radiofônico que começava à noitinha e se prolongava até o fim da madrugada e no início do programa tocou “Blue Moon” com The Marcels. O telefone da rádio não parou mais de tocar solicitando a repetição daquela gravação e Kauffman teve que tocar “Blue Moon” 26 vezes noite adentro. No dia seguinte todas as lojas de Nova York faziam pedidos do primeiro disco do The Marcels. A Colpix se apressou em editar a gravação e lançou o compacto no final de março, com “Blue Moon” entrando em 18.º lugar na lista dos 40 discos mais vendidos. No dia 3 de abril a gravação do The Marcels assumiu o primeiro lugar do hit-parade, desbancando “Surrender”, com Elvis Presley. “Blue Moon” ficou três semanas em primeiro lugar e um total de nove semanas entre as mais vendidas nos Estados Unidos. Na Inglaterra “Blue Moon” também atingiu o topo dos discos mais vendidos se transformando num grande sucesso.


Murray 'The K' Kauffman, o disc-jóquei que tornou famosa a gravação do The Marcels.

Mas nem tudo foi tão fácil para a espetacular carreira de “Blue Moon” pois Richard Rogers detestou o que The Marcels fez com sua música. O compositor publicou anúncios nos jornais pedindo para que ninguém comprasse aquele disco. Claro que o efeito foi exatamente o contrário, para desespero de Richard Rogers pois sua clássica canção tocava em todo lugar. “Blue Moon” foi composta por Richard Rogers e Lorenz Hart em 1933 e foi chamada primeiro de “Make me a Star” e depois de “The Bad in Every Man”. Finalmente, em 1935 recebeu novos versos e o título definitivo, sendo gravada por praticamente todos os grandes cantores norte-americanos, antes e depois da gravação do The Marcels. Billie Holliday, Bing Crosby, Frank Sinatra, Elvis Presley, Bob Dylan, Cliff Richard e Rod Stewart, entre outros gravaram “Blue Moon” que fez sucesso na voz de Mel Thormé, antes do The Marcels. “Blue Moon” fez parte da trilha musical de “Minha Vida é uma Canção”, de 1948, filme em que Mickey Rooney interpreta Lorenz Hart e Tom Drake é Richard Rogers. “Blue Moon” foi ouvida depois em 1949, em “Malaia” (com Spencer Tracy e James Stewart); em 1950 em “Mundos Opostos” (com Barbara Stanwyck); e em 1952, no filme “Meu Coração Canta” (com Susan Hayward). Em 1981 o cinema voltou a usar a “Blue Moon” no filme de John Landis “Um Lobisomem Americano em Londres”, ouvida na abertura na voz de Bobby Vinton e nos créditos finais com a gravação do The Marcels.


Rogers e Hart na capa da revista Time; Mickey Rooney interpretando Lorenz Hart ao lado de
Judy Garland, no musical da Metro "Minha Vida é uma Canção" (Words and Music).

Na década de 50, nos Estados Unidos, havia quase tantos grupos vocais quanto cantores e cantoras solos. The Marcels, de Pittsburgh, Pensylvania, era apenas mais um deles, com uma característica especial: era um grupo vocal interracial formado pelos negros Cornelius ‘Nini’ Harp, Ronald ‘Bingo’ Mundy e Fred Johnson e pelos brancos Gene Bricker e Richard Knauss. O repertório do The Marcels era todo composto por rhythm & blues, na esteira do sucesso de cantores como Fats Domino com seus hits “My Blue Heaven” e “Blueberry Hill”. O nome do grupo era uma referência a um tipo de penteado que andou em voga nos anos 40, chamado de ‘marcel’. Após o sucesso de “Blue Moon”, o grupo The Marcels gravou três compactos e um LP, que não venderam bem. Mesmo recriando a seu estilo canções famosas como “Over the Rainbow”, “Summertime” e “You Are My Sunshine”, The Marcels só era lembrado por “Blue Moon”. Foi quando os dois brancos do quinteto deixaram o grupo e Fred Johnson trouxe seu irmão Allen Johnson (barítono). Walt Maddox, outro negro completou o grupo, agora formado só por coloreds.


Acima a primeira formação do The Marcels, com Richard Knauss, Ronald 'Bingo' Mundy,
Gene Bricker, Fred Johnson e Cornelius 'Nini' Harp. Abaixo a segunda formação, sem os
brancos Richard Knauss e Gene Bricker, substituídos por Allen Johnson e Walt Maddox.

Em 1961 os membros do The Marcels participaram do filme “Dançando o Twist”, estrelado por Chubby Checker e Dion DeMucci. Nos anos seguintes ocorreram várias trocas de vocalistas e o repertório do The Marcels continuava fazendo novas versões de stardards como “That Old Black Magic”, “How Deep is the Ocean” e “In the Still of the Night”. The Marcels mudou de gravadora e trocou várias vezes de formação, mas nada disso trouxe de volta o sucesso conhecido com “Blue Moon”. E é essa música que prolongou por quase 50 anos a vida do grupo, apresentando-se para plateias que aplaudiam a afinação dos cinco senhores e esperando pelo momento de ouvir a famosa canção de Rogers & Hart. Daquele jeito que só The Marcels, com o mesmo Fred Johnson fazendo o fantástico e inconfundível baixo.



Um comentário:

  1. Ótimo texto. Muito informativo! Estou produzindo uma história em quadrinhos onde The Marcels aparecem cantando Blue Moon. Abraço!

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