“Gênio
é a mais alta das categorias e eu acredito que Ray Charles não está sequer
próximo dessa categoria” – Ray Charles.
“Ray
Charles é o único gênio verdadeiro neste negócio de música” –
Frank Sinatra.
“Pode
parecer sacrilégio, mas na música considero Ray Charles mais importante que
Elvis Presley” – Billy Joel.
Acima os irmãos Ertegun (Ahmet e Nesuhi); abaixo Jerry Wexler e Ray Charles. |
A opinião de Ray Charles parece não ter
muito valor quando artistas tão importantes reverenciam seu talento e
criatividade que o tornam um músico fascinante. A carreira de Ray Charles é
bastante conhecida, ainda mais após o magnífico filme sobre sua vida, estrelado
por Jamie Foxx, produzido em 2004. Desde 1949 Ray Charles gravava em pequenas
gravadoras, até que em 1952 assinou com a Atlantic, onde os irmãos Ahmet e
Nesuhi Ertegun e mais o produtor Jerry Wexler deram total liberdade ao jovem
pianista que também compunha e cantava. A primeira gravação de Ray que
assombrou o público foi “Mess Around” (1953). E com a gravação “I Got a Woman”
(1954), o Rhythm and Blues já sabia que Ray era diferente de tudo que se fazia
naquele gênero de música dominado predominantemente pelos negros. Essa sua
canção mesclava Rhythm and Blues (R&B), gospel e blues, sendo uma das
músicas fundamentais à criação do nascente fenômeno chamado Rock’n’Roll. “I Got
a Woman” atingiu o primeiro lugar da parada de sucessos exclusiva do R&B,
colocação também alcançada pelas gravações de Ray Charles “A Fool for You”, “Mary
Ann”, “Drown in my Own Tears” e “What’d I Say”, esta em 1959. Público, crítica
e outros artistas se renderam à força rítmica de “What’d I Say”, verdadeira
explosão sonora em meio à mesmice que havia se transformado o Rock’n’Roll. Além
dos ingredientes comuns à música de Ray, essa contagiante gravação tinha ainda
uma latinidade desconhecida na música do cantor-pianista. “What’d I Say” chegou
ao 6.º posto do Billboard popular e não demoraria muito para Ray Charles dominar também
esse segmento do hit parade.
Discos de Ray Charles nos tempos da Atlantic Records. |
Sid Feller e Ray Charles durante uma gravação. |
Long-plays de Ray Charles na ABC-Paramount que antecederam 'Modern Sounds'. |
Gravado em fevereiro de 1962 nos
estúdios da Capitol Records, o disco foi lançado em maio desse mesmo ano, aparecendo
já no 10.º posto. Na semana seguinte ‘Modern Sounds’ pulou para a 2.ª colocação
e em sua terceira semana atingiu o primeiro lugar, desbancando dessa colocação
a trilha sonora musical do filme “West Side Story”. ‘Modern Sounds in Country
and Western Music’ permaneceu em 1.º lugar entre os álbuns mais vendidos nos
Estados Unidos por 14 semanas consecutivas, ficando entre os dez LPs mais
vendidos por 33 semanas, ou seja, pelo resto do ano de 1962. O retumbante
sucesso desse álbum fez com que, em setembro de 1962, Ray voltasse ao estúdio
para novas gravações de outro disco que complementava ‘Modern Sounds’. Em
novembro desse mesmo ano o novo álbum foi lançado com o título ‘Modern Sounds
in Country and Western Music – Volume II’, que em seu lançamento apareceu já na
10.ª posição, chegando ao 4.º posto entre os mais vendidos. Esse segundo álbum,
gravado no mesmo estilo do primeiro, é excepcional e não é exagero afirmar que
supera bastante o anterior, ficando, no entanto, ‘apenas’ 15 semanas entre os
dez mais vendidos nos Estados Unidos.
Don Gibson, autor de "I Can't Stop Loving You". |
No vídeo abaixo letra e música de "I Can't Stop Loving You" na voz de Ray Charles.
Ray Charles e The Raeletts. |
Outra canção que vendeu bem em compacto (single),
simultaneamente a “I Can’t Stop Loving You” foi “You Don’t Know Me”, ainda que
tenha ficado longe do extraordinário sucesso da canção de Don Gibson. “You Don’t Know Me” havia feito sucesso originalmente
na voz de Hank Williams e de autoria do mesmo Hank Williams, Ray Charles
inseriu “You Win Again” e “Hey, Good Looking” no álbum ‘Modern Sounds in Country & Western Music’. No
Volume II destacam-se os clássicos do Country & Western “Your Cheating
Heart” (também de Hank Williams), “Take These Chains from my Heart” (sucesso
original na voz de Hank Williams em 1952), “Making Believe” e “Oh, Lonesome
Me”. A faixa “You Are My Sunshine” contou com a participação das ‘Realetts’, o quarteto
vocal liderado por Margie Hendrix que acompanhava Ray Charles nas apresentações
ao vivo, como a que ocorreu no Brasil em 1963. Nessa canção Margie ofusca o próprio Ray Charles com uma empolgante interpretação. As tradicionais canções Country
& Western dos dois álbuns passaram a ser conhecidas (e admiradas) pelo
grande público graças ao admirável trabalho de Ray Charles nesses dois álbuns
históricos.
Ao centro apresentação de Ray Charles e Orquestra em São Paulo, em 1963. Ray não está no piano e sim solando ao saxofone. |
Ray Charles e Frank Sinatra, que também gravou "I Can't Stop Loving You". |
Com produção de Sid Feller em parceria
sem crédito do próprio Ray Charles, ‘Modern Sounds in Country and Western
Music’ volume I contou com arranjos e condução da orquestra dos maestros Gerald
Wilson e Gill Fuller. O maestro Marty Paich foi o responsável pelos arranjos
das cordas e do coro. Porém foi mesmo Ray Charles quem reorientou os arranjos,
tendo reescrito inteiramente alguns deles. Além de Don Gibson, também Kitty
Wells e Roy Orbison haviam gravado “I Can’t Stop Loving You” antes de Ray
Charles. Entre os muitos cantores e cantoras que posteriormente gravaram essa
canção estão Elvis Presley, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Jerry Lee Lewis,
Van Morrison, Conway Twitty, Ricky Nelson, Connie Francis, Andy Williams,
solmon Burke, Jim Reeves e Tom Jones. Count Basie e Orquestra gravaram versão
apenas instrumental em 1963. “I Can’t Stop Loving You” sem dúvida puxou as vendas
do álbum ‘Modern Sounds in Country and Western Music’, disco relacionado em
praticamente todas as listas de álbuns mais importantes da história da música
norte-americana, sendo considerado um marco fonográfico. Mais que nenhum outro
disco ‘Modern Sounds in Country and Western Music’ fez com que a discriminada e
humilhada música Country & Western passasse a ser conhecida, admirada e
gravada em todo o país pelos mais renomados artistas. Só mesmo um gênio como
Ray Charles seria capaz de tal proeza.
O jovem Ray Charles, no auge da criatividade artística. |