Qual o mais impactante início de música
da história do Rock (’n’ Roll)? Muitos dirão que é a introdução de
“Satisfaction”, dos Rolling Stones; os beatlemaníacos não aceitarão outro começo
melhor que não seja o de “Come Together”; fãs do The Who inconformados
perguntarão sobre “Won’t Get Fooled Again”? E há tantos outros inícios de
canções memoráveis como “Cocaine”, de J.J. Cale na versão de Eric Clapton;
“Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd e a pesadíssima “Smoke on the
Water”, do Deep Purple que não podem ser esquecidas. No velho e bom rock ’n’
roll os mais antigos lembrarão da introdução composta por Chuck Berry para
“Johnny B. Goode” ou da trepidante explosão inicial de “Pretty Woman”, de Roy
Orbison. A esses célebres inícios de músicas pode-se juntar o graciosamente
irresistível “Breakin' Up is Hard to Do”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield,
canção que atingiu o primeiro lugar do hit parade norte-americano quando de seu
lançamento em 1962.
No vídeo abaixo Neil Sedaka se apresenta em programa de televisão
em 1966 e canta seu maior sucesso, "Breakin' Up is Hard to Do".
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Howard Greenfield, Neil Sedaka e Connie Francis. |
Parceria
com o vizinho Howie - Neil Sedaka, descendente de judeus
nascido no Brooklyn (N.Y.) e cujo nome verdadeiro é Neil Tzedakah, tornou-se
conhecido em 1958 como o compositor de “Stupid Cupid”. Essa canção foi feita em
parceria com seu vizinho Howie (Howard Greenfield), vizinho de Neil desde quando
eram crianças e Neil aprendia piano num conservatório. O adolescente Neil fazia
canções e o amigo da casa ao lado fazia as letras. A namorada de Neil, uma adolescente
também judia chamada Carol Klein (mais tarde Carole King) incentivava e
inspirava bastante o namorado. “Stupid Cupid” foi gravada por Connie Francis e
se tornou a primeira música da dupla Sedaka-Greenfield a atingir as paradas de
sucesso, vendendo mais no Reino Unido que nos Estados Unidos. No Brasil, em
versão de Fred Jorge e com o título “Estúpido Cupido”, essa música lançou para
o sucesso uma jovem cantora nascida em Campinas e criada em Taubaté chamada
Celly Campello, adolescente que logo se tornaria a Rainha do Rock ’n’ Roll
brasileiro.
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Carole King, a 'Carol' do sucesso de Neil Sedaka. |
Inspirado
por Carole King - A dupla Sedaka e Greenfield não
parava de compor e o pianista Neil decidiu que passaria a cantar suas
composições, gravando “The Diary” que fez sucesso na Inglaterra e tocou pouco
nos Estados Unidos. Mais uma vez o atento Fred Jorge fez uma versão chamada “O
Diário” que foi gravada por Tony Campello, irmão de Celly e também por Carlos
Gonzaga. Por aqui a gravação de Sedaka foi muito mais executada. Já conhecido
como cantor-compositor, Neil Sedaka obteve sucesso com “Oh Carol”, que foi
seguida por “Stairway to Heaven”, “Run, Samson Run”, “Calendar Devil”, “Little
Devil” e “Happy Birthday Sweet Sixteen”. “Oh Carol” foi composta para Carol
Klein e, como não poderia deixar de ser atingiu, o primeiro lugar da parada de
sucessos mas na versão (de quem mais poderia ser?) de Fred Jorge cantada por
Carlos Gonzaga. O primeiro LP de Neil Sedaka lançado no Brasil continha “Stupid
Cupid”, “The Diary” e uma série de baladas românticas mescladas com rocks que
Little Richard poderia cantar sem hesitar. “I Go Ape”, por exemplo, é um desses
torpedos que não deixa ninguém ficar parado e merecia ser muito mais executada.
Passado o impacto inicial desses êxitos musicais de Neil Sedaka, ele teria que
esperar até 1962 para sentir o gosto do verdadeiro sucesso.
Down,
doo-be-doo-dow-down - Neil e Carole King já haviam deixado
de ser namorados há bastante tempo e em 1962, aos 23 anos, Sedaka se casou com
Leba Strassberg. Casadinho de novo ele tinha uma frase na cabeça: “Breakin' up is hard to do”, mas não
conseguia desenvolver a melodia. Desta vez o parceiro Howard Greenfield não se
entusiasmou muito em fazer uma letra com aquele tema, mas acabou atendendo
Sedaka e a nova música ficou logo pronta. Isto é, quase pronta. Na véspera do
dia da gravação Neil não conseguiu dormir pois sabia que faltava alguma coisa
para aquela canção. E o insone Sedaka teve a ideia genial. Nem bem amanheceu o
dia e Neil ligou para a RCA Victor pedindo ao arranjador Allan Lorber para
começar a canção com o fraseado musical ‘Down
doo-be-doo-down-down, comma, comma down...’. Lorber percebeu o grande
achado de Neil e quando o cantor chegou ao estúdio para a gravação, às 12h30,
estava tudo pronto e do jeito que Neil imaginara. Participaram da gravação na
RCA Victor os guitarristas Al Casamenti, Art Ryerson e Charles Macy; Ernie Hayes
tocou piano e George Duvivier tocou contrabaixo; Gary Chester foi o baterista,
e a percussão ficou a cargo de George Devens e Phil Kraus, enquanto Artie
Kaplan tocou saxofone. As cordas ficaram a cargo de Seymour Barab e Morris Stonzek
(celos) e David Gulliet, Joseph H. Haber, Harry Kohon, David Sakson e Louis Stone
(violinos). O coral foi feito pelo grupo vocal The Cookies. A canção recebeu o
título “Breakin' up is Hard to Do”.
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Greenfield e Sedaka assinando contrato com Don Kirschner; no centro as cantoras do The Cookies, que fazem o backing vocal de "Breakin' Up is Hard to Do"; o casal Leba e Neil Sedaka ainda jovens. |
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Neil e Leba: casados há 52 anos. |
Number
One, Neil! - Que a nova canção de Sedaka-Greenfield tinha potencial
para o sucesso todos na RCA Victor perceberam assim que ouviram o ‘demo’. E a
gravadora decidiu trabalhar com carinho o novo disco junto aos DJs. Mas nem havia
necessidade disso! Qualquer pessoa que ouvisse apenas uma vez a introdução de “Breakin' up is Hard to Do” não iria esquecê-lo tão facilmente. Lançada em junho de 1961
a gravação apareceu logo em 13.º lugar na Billboard e na semana seguinte já
estava em 1.º lugar, posição em que permaneceu por duas semanas, destronando o
megahit “I Can’t Stop Loving You” do ‘The Genius’ Ray Charles. Neil Sedaka se encontrava
em excursão pela Inglaterra, apresentando-se no London Palladium quando recebeu
um telegrama de sua esposa Leba contando que “Breakin' up is Hard to Do” estava
tocando no país inteiro. Não demorou e chega outro telegrama dizendo apenas: “Number
One, Neil!”
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Um Neil maduro. |
Irresistível
refrão - “Breaking up is Hard to Do” foi descrita pela ‘Allmusic’
(Bíblia da música norte-americana, hoje também em site) como “Dois minutos e dezesseis segundo de pura
magia pop”. A alegria contagiante da canção se apossa de quem a escuta e a
letra e melodia fáceis de serem cantadas não permitem que jamais Neil cante
sozinho, mas sim acompanhado pelo(s) ouvinte(s). O arranjo de Allan Lorber deu
um saboroso balanço à canção que parece nunca parar de crescer até que retorna ao
irresistível refrão. “Breaking up is Hard to Do”, mais que qualquer outra
canção é o próprio retrato musical de Neil Sedaka, artista sempre feliz,
radiante e transmitindo isso a quem o assiste. Muitos outros artistas gravaram versões de “Breakin' up is Hard to Do”, merecendo ser lembrados Carole King, Tom Jones, Little Eva,
Paul Anka, Andy Williams, The Four Seasons, Eydie Gourmet, Gloria Stefan, The
Carpenters e Dee-Dee Sharp. Sylvie Vartan gravou uma versão em
Francês com o título “Moi Je Pense Encore a Toi”.
CANTE JUNTO COM NEIL SEDAKA
Abaixo vídeo com a letra de "Breakin' up is Hard to Do"
Ainda
em plena atividade - Neil Sedaka foi dos raros artistas
que conseguiu retornar ao 1.º lugar do Billboard duas décadas depois e isso
ocorreu com “Laughter in the Rain” em fevereiro de 1975. Aos 76 anos de idade e
com quase 60 anos de carreira (e 52 de casamento com Leba) Neil Sedaka continua
se apresentando pelo mundo e relembrando seus grandes sucessos, nunca deixando
de levantar o público com a alegria de “Breakin' up is Hard to Do”.
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Neil Sedaka em apresentação em 2009. |