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Uma máquina Juke-Box. |
Nos anos 50, nos Estados Unidos, havia
quatro formas de paradas de sucesso: a) a dos discos mais vendidos; b) a dos
discos mais tocados pelos disc-jockeys; c) a dos discos mais tocados nas
juke-boxes; d) a dos discos Top-100. Juke-boxes eram as máquinas espalhadas por
todo os Estados Unidos e nas quais colocando-se uma ficha e selecionando o
disco, a máquina buscava o compacto tocando-o por uma vez. As juke-boxes viraram
uma verdadeira febre entre os jovens pois elas ficavam em lugares frequentados
pelos playboys e playgirls onde eles passavam horas ouvindo música e tomando
Coca-Cola. Já a parada de sucessos denominada Top-100 tabulava uma combinação
das três outras paradas de sucesso. Por duas semanas do mês de fevereiro de
1956 a gravação “The Great Pretender”, do conjunto vocal The Platters conseguiu
a proeza de ser a primeiríssima colocada do Top-100 norte-americano. E na lista
semanal dos discos mais vendidos da revista Cash-Box, “The Great Pretender” foi
a primeira colocada por três semanas consecutivas. Essa gravação permaneceu por
17 semanas entre as mais vendidas e foi o quarto disco mais vendido em 1956,
ultrapassando um milhão de cópias e dando o segundo Disco de Ouro para os
Platters.
A lista dos
artistas que chegaram ao topo das listas de discos mais vendidos em 1956 foi
formada por Tennessee Ernie Ford com “Sixteen
Tons” – Dean Martin com “Memories are
Made of This” – Kay Starr com “Rock
and Roll Waltz” – Nelson Riddle e Orquestra com “Lisbon Antiqua” – Les Baxter e Orquestra com “The Poor People of Paris” – Morris Stoloff e Orquestra com “Moonglow” – Gogi Grant com “The Wayward Wind” – Pat Boone com “I Almost Lost My Mind” – Guy Mitchell
com “Sing the Blues”. The Platters esteve duas vezes no topo
da lista com “The
Great Pretender” e “My Prayer” e Elvis Presley ficou 22 semanas em primeiro
lugar com “Heartbreak Hotel”, “Hound
Dog”, “Don’t Be Cruel” e “Love me
Tender”. Entre tantos artistas brancos, apenas os Platters eram
negros, por sinal foram eles os primeiros cantores negros a chegar ao primeiro
lugar da parada Pop (popular) norte-americana, quebrando a escrita segundo a
qual essa honra era, até então, reservada apenas para os artistas brancos.
Cantores negros frequentavam unicamente as paradas Rhythm and Blues (R&B)
ou Country and Western (C&W).
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Gogi Grant, Dean Martin, Tennessee Ernie Ford e Kay Starr. |
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Acima, à esquerda, Buck Ram. |
Há exatos 60 anos, em 1953, nascia o
quarteto vocal The Platters, com uma formação da qual apenas David Lynch fazia
parte do grupo que explodiria nas paradas de sucesso já no final de 1955. Como
quarteto os Platters gravaram alguns discos na pequena Federal Records, da qual
eram contratados, entre eles a primeira versão de “Only You”. Mas o sucesso
somente veio depois que o empresário e compositor Buck Ram passou a gerenciar a
vida artística do grupo. Foi Buck Ram quem trouxe para o The Platters os cantores
Paul Robi, Herb Reed (o vozeirão que fazia o baixo), Tony Williams e transformou
o grupo em quinteto, com a jovem Zora Taylor, então com apenas 15 anos de idade.
Buck Ram conseguiu que o The Platters fosse contratado pela Mercury Records e
fez o grupo regravar “Only You”, com novo arranjo. A esposa do vocalista Tony
Williams trabalhava como secretária de um disc-jockey em Los Angeles e este com
seus contatos conseguiu que o disco fosse executado nas rádios e logo começaram
os pedidos das lojas para comprar “Only You”. Essa gravação chegou às paradas
de sucesso em outubro de 1955, permanecendo 18 semanas entre as mais vendidas e
chegando ao 5.º lugar. “Only You” rendeu ao grupo o primeiro Disco de Ouro e
tornou o The Platters conhecido em todo o país, fazendo shows por todo os
Estados Unidos. Mas faltava uma música que desse um novo Disco de Ouro ao grupo e essa
música, foi “The Great Pretender”, escrita por Buck Ram. Segundo ele, a música
foi escrita em 30 minutos, na lavanderia do Hotel Flamingo, em Las Vegas. A
sessão de gravação de “The Great Pretender” foi realizada no dia 3 de novembro
de 1955 e o disco foi lançado no final desse mês. Na semana de 4 de fevereiro
de 1956 “The Great Pretender” já liderava a lista dos discos mais vendidos na
América do Norte.
Em 1956, nos Estados Unidos os 78
rotações perdiam de goleada para os 45 rotações nas vendas de discos e por isso
tinham seus dias contados. As gravações eram lançadas com selos de cores
diferentes, obedecendo ao gênero de música gravada. O selo lilás (nos 78 ou nos
45 rpm) era para músicas do chamado ‘Rhythm and Blues’ (R&B), músicas
destinadas às comunidades rurais negras e pobres. Com uma batida rítmica
insistente, herdada dos ancestrais africanos, o R&B gerou os estilos soul,
funk e variações do blues e da música gospel. Os discos com selo lilás possuíam
parada de sucessos própria. Os discos com selos pretos eram destinados à
chamada música ‘pop’, com predominância de artistas brancos. Havia ainda a ‘Country
& Western’, cujos discos eram diferenciados dos demais com seus selos
azuis. Curiosamente, quando Buck Ram apresentou “The Great Pretender” ao The
Platters, a princípio Tony Williams se recusou a gravá-la dizendo que aquela
era uma canção acaipirada e que ele não cantava country-music (C&W).
Engraçado que depois de o disco ficar pronto a Mercury Records lançou “The
Great Pretender” com o selo lilás, entendendo que a música era Rhythm and
Blues. Percebendo o equívoco, duas semanas depois esses discos foram recolhidos
pela gravadora e lançados com o selo preto (Pop). Um compacto simples de “The
Great Pretender” com selo lilás é item raríssimo, valendo hoje uma pequena
fortuna entre colecionadores.
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Zola Taylor e Tony Williams. |
O sucesso do The Platters continuou
pelos próximos anos com “My Prayer”, “Smoke Gets in Your Eyes” e “Twilight
Time”, músicas que também alcançaram o primeiro lugar do hit-parade nos Estados
Unidos. Grandes sucessos do grupo foram também “Enchanted”, “Harbor Lights”,
“I’m Sorry”, “You’ll Never know”, “(You’ve Got) That Magic Touch” e que
juntamente com seus long-playings venderam mais de 50 milhões de discos no
mundo inteiro. Em 1959 os quatro rapazes foram flagrados num hotel com maconha
e prostitutas e foram presos. Esse fato abalou a reputação do The Platters mas o que
colaborou mesmo para o declínio do grupo foram as saídas de Tony Williams e
Zora Taylor, em 1960. Ambos tentaram carreira solo sem maior sucesso. Pode-se
afirmar sem medo de errar que no Brasil os Platters faziam sucesso equivalente
(ou até maior) que o próprio Elvis Presley. Isso explica porque tantas vezes o
The Platters atual visita o Brasil e se exibe no mundo inteiro lembrando os
antigos sucessos. David Lynch faleceu em 1981; Paul Robi em 1989; Tony Williams faleceu em 1992; Zora Taylor em 2007, aos 69 anos; Herb Reed foi o último do grupo, em sua formação mais famosa, a falecer, o que ocorreu em 2012. Buck Ram faleceu em 1991.
Dentre as dezenas de músicas dos
Platters, o Brasil elegeu “The Great Pretender” como sua favorita. Nenhuma
outra gravação do grupo foi mais regravada, seja no Brasil ou no exterior que “The
Great Pretender”. Carlos Gonzaga gravou uma versão, intitulada “Meu Fingimento”
e Raul Seixas também fez um registro de “The Great Pretender”. Talvez a mais
famosa regravação dessa música tenha sido a de Freddie Mercury, em 1987, quando
a composição de Buck Ram voltou às paradas de sucesso. Uma biografia de Freddie
Mercury recebeu justamente o título “The Great Pretender”. Entre os artistas famosos que fizeram ‘covers’ de “The
Great Pretender” estão Roy Orbison, Dolly Parton, Sam Cooke, Gene Pitney, Pat
Boone, Gene Summers, The Band e Roy Clark. Mas é difícil que
haja alguém com mais de 40 anos que nunca tenha cantado os versos dramáticos e
desesperançosos de “The Great Pretender”, uma das canções clássicas de todos os
tempos.