sábado, 4 de outubro de 2014

“JOHNNY’S GREATEST HITS”, O ÁLBUM RECORDISTA DE JOHNNY MATHIS


Johnny Mathis e o produtor Mitch Miller.
Um jovem cantor negro de 23 anos dominou a cena musical norte-americana no final da década de 50 à parte do barulho feito pelos rock’n’rollers liderados por Elvis Presley. Frank Sinatra, Nat King Cole, Dean Martin, Bing Crosby e outros assistiam (e ouviam) o desfilar de canções românticas cantadas pelo rapaz chamado Johnny Mathis. O jovem tornou-se um fenômeno musical entre aqueles que sabiam cantar de verdade. Dono de um timbre de voz único, com alcance excepcional nos agudos sem com isso machucar os tímpanos dos ouvintes, Johnny Mathis usava os falsetes deliciosamente como nenhum outro cantor fazia. O cantor novato surpreendia também pela versatilidade pois cantava igualmente bem spirituals, rhythm and blues, soul music, blues e country music. Gravando pela Columbia (CBS), com produção do diretor musical Mitch Miller, Mathis embalou os corações românticos com as belas canções que lançou e que foram reunidas em seu álbum de 1958.

O álbum que permaneceu por dez anos
entre os mais vendidos nos States.
Naquele tempo os long-playings eram uma reunião de canções que buscavam agradar o público consumidor. Algumas vezes essas canções tinham alguma relação entre si e os álbuns eram chamados de temáticos, como alguns que Frank Sinatra gravou em meados dos anos 50. Mas até então, à exceção de Elvis Presley, nenhum outro cantor conseguia gravar um long-playing composto em sua quase totalidade por seus próprios sucessos em forma de singles. Foi quando a história da música viu pela primeira vez um disco intitulado ‘Greatest Hits’. Mais exatamente “Johnny’s Greatest Hits” com os sucessos de Johnny Mathis. A rigor nem todas as doze canções desse álbum foram sucessos absolutos, mas nove delas fizeram parte das listas das mais vendidas da Billboard entre fevereiro de 1957 e junho de 1958. Foram elas: “Chances Are”, que atingiu o primeiro posto em setembro de 1957 – “It’s Not for Me to Say” – “Wonderful, Wonderful” – “A Certain Smile” – “The Twelfth of Never” – “Wild is the Wind” – “Come to Me” – “No Love (but Your Love)” – “All the Time”. Algumas dessas faixas tiveram a regência do maestro Ray Conniff e outras foram entregues ao maestro Ray Ellis. Ray Conniff (e sua orquestra) tornou-se também à época um campeoníssimo de vendas.




Nos anos seguintes Johnny Mathis continuou fazendo sucesso, se bem que muito menor que no biênio 1957/58. Foi quando Johnny gravou “Misty”, “Starbright”, “Gina”, “My Love for You”, “Warm” e “Maria”, do filme “West Side Story” (Amor, Sublime Amor”, antes ainda que o premiado musical tivesse sido lançado nos cinemas. Ainda desse filme Mathis gravou também “Tonight” e Somewhere”. Johnny Mathis gravou seu primeiro álbum em 1956, lançando outros dois long-playings em 1957 e nada menos que quatro álbuns em 1958. Um deles – “Johnny’s Greatest Hits” – iria entrar para a história da música e para o livro ‘Guinne’s Book of World Records’.
Na foto ao lado Johnny Mathis e Errol Garner, autor de Misty", canção com dezenas de gravações mas que foi  imortalizada por Mathis.


Os quatro álbuns que juntamente com "Johnny's Greatest Hits" estiveram
simultaneamente entre os mais vendidos em 1958.

O maestro-arranjador Ray
Conniff, responsável por
muitas faixas do álbum
"Johnny's Greatest Hits".
O álbum “Johnny’s Greatest Hits” chegou às paradas em 1958 permanecendo entre os long-playings mais vendidos, segundo a lista ‘Billboard Top 200’ por inacreditáveis 491 semanas. Por quase dez anos (até 1967) havia sempre um grande número de pessoas adquirindo esse disco magnífico contendo os primeiros sucessos de Johnny Mathis. O recorde de Johnny Mathis viria a ser quebrado pelo álbum “The Dark Side of the Moon”, do grupo inglês Pink Floyd, que ultrapassou a barreira dos dez anos entre os discos mais vendidos da lista da revista especializada ‘Billboard’. Mas Johnny Mathis detém ainda outro recorde que nenhum outro artista solo conseguiu até hoje, que foi manter cinco álbuns entre os 20 mais vendidos na parada norte-americana. Frank Sinatra chegou a ter quatro LPs na lista da Billboard de álbuns mais vendidos, sendo superado pelos cinco gravados por Johnny Mathis. O fato incomum se explica porque os colecionadores queriam possuir todos os discos de Johnny Mathis quando este se transformou na coqueluche da canção estadunidense.

Sinatra e Elvis
Os discos de Johnny Mathis venderam um total de 350 milhões de cópias, o que faz dele o terceiro artista norte-americano nessa categoria. Mathis fica atrás apenas de Elvis Presley (500 milhões) e Frank Sinatra (400 milhões). Estima-se que “Johnny’s Greatest Hits” tenha vendido até hoje mais de 25 milhões de cópias no mundo todo. Os singles de Johnny Mathis que ultrapassaram o milhão de cópias foram “Chances Are” e “Misty” (dois milhões de cópias cada um); “Wonderful Wonderful” e “It’s Not for Me to Say” (um milhão de cópias cada); “When a Child is Born” e “Too Much, Too Little, Too Late”, sucessos da década de 70 venderam seis milhões de cópias cada um no mundo todo.

A CBS, que editava no Brasil os discos da Columbia, decidiu lançar não o long-playing “Johnny’s Greatest Hits”, mas sim uma versão ainda mais completa dos primeiros sucessos do cantor. O álbum recebeu o título “Grandes Interpretações de Johnny Mathis”, contendo esta primorosa seleção de doze faixas:
LADO A – “Misty”, “Stranger in Paradise”, “Warm”, “Heavenly”, “Wonderful Wonderful” e “Chances Are”.
LADO B – “Gina”, “A Certain Smile”, “Faithfully”, “Wild is the Wind”, “Starbright” e “It’s Not for Me to Say”.
Esse era um tipo de álbum que rodava todas as faixas, era virado e ouvia-se o outro lado, tão bonitas são as canções, algumas delas verdadeiras preciosidades fonográficas. Lamentavelmente o controle da venda de discos no Brasil sempre deixou a desejar e é verdadeiro mistério descobrir quantas centenas de milhares de cópias “Grandes Interpretações de Johnny Mathis” teria vendido.

Agostinho dos Santos
e Johnny Mathis,
Johnny Mathis adora o Brasil, tendo estado em nossa terra inúmeras vezes, seja em apresentações ou a passeio. Mathis mantinha grande amizade com Agostinho dos Santos, cantor que muito admirava e com quem cantou muitas de nossas canções, ainda que nenhum registro fonográfico haja desses momentos. E Johnny gosta demais de cantar músicas brasileiras, especialmente aquelas que cantava com o amigo Agostinho. Nascido em 30 de setembro de 1935, em Gilmer, no Texas, com o nome John Royce Mathis, Johnny tinha outros seis irmãos. Sua família mudou-se quando ele era ainda criança para São Francisco onde cedo seu talento vocal foi descoberto. Johnny destacou-se nos esportes na San Francisco State University. Sua especialidade era o salto em distância, modalidade que praticava ao mesmo tempo em que cantava em night-clubs. E Johnny somente não se transformou em atleta olímpico porque foi convidado pela Columbia Records para gravar em Nova York. O resto é uma bela história de recordes fonográficos.

Mathis, astro
amador do golfe.
Aos 79 anos de idade Johnny Mathis continua a se apresentar, isto quando não está recebendo alguma das dezenas de honrarias por sua brilhante carreira como cantor. Inúmeras vezes Mathis recebeu o prêmio Grammy ou foi homenageado por essa academia, tendo sido conduzido ao Hall da Fame do Grammy. Em 2014 foi a vez de Johnny Mathis ser conduzido ao Great American Songbook Hall of Fame, cerimônia que também conduziu igualmente Nat King Cole. Que companhia, para o criador de “Chances Are”! Mathis foi durante algum tempo viciado em álcool e drogas, o que é estranho pois sempre foi um ávido jogador de tênis. Nos últimos anos trocou esse esporte pelo golfe no qual é destacado jogador, tanto que há torneios que levam seu nome em Los Angeles e mesmo em Belfast, na Irlanda. Outro hobby de Johnny Mathis é a culinária, tendo sido lançado um livro com suas receitas. Tendo gravado perto de 100 álbuns, Johnny Mathis é um homem rico, mas a maior riqueza foi ter embalado momentos inesquecíveis de tantos fãs, especialmente com seu álbum “Johnny’s Greatest Hits”, um verdadeiro Golden Record.

Entrega de mais um prêmio a artistas da canção vendo-se
Johnny Mathis, Andy Williams, Barry Manillow e Pat Boone.

Homenagem a Charles Chaplin com a presença de Jack Nicholson,
Johnny Mathis, Jane Fonda e Sammy Davis Jr.

Johnny Mathis durante uma de suas várias apresentações no Brasil.

Milionário da música, com seus mais de 350 milhões de discos vendidos,
Johnny Mathis pode se dar ao luxo de possuir uma Mercedes Benz SL 550.

Johnny Mathis, que completou 79 anos em 30 de setembro último.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

“I CAN’T STOP LOVING YOU” - RAY CHARLES


“Gênio é a mais alta das categorias e eu acredito que Ray Charles não está sequer próximo dessa categoria”Ray Charles.

“Ray Charles é o único gênio verdadeiro neste negócio de música”Frank Sinatra.

“Pode parecer sacrilégio, mas na música considero Ray Charles mais importante que Elvis Presley”Billy Joel.

Acima os irmãos Ertegun
(Ahmet e Nesuhi);
 abaixo Jerry Wexler e Ray Charles.
A opinião de Ray Charles parece não ter muito valor quando artistas tão importantes reverenciam seu talento e criatividade que o tornam um músico fascinante. A carreira de Ray Charles é bastante conhecida, ainda mais após o magnífico filme sobre sua vida, estrelado por Jamie Foxx, produzido em 2004. Desde 1949 Ray Charles gravava em pequenas gravadoras, até que em 1952 assinou com a Atlantic, onde os irmãos Ahmet e Nesuhi Ertegun e mais o produtor Jerry Wexler deram total liberdade ao jovem pianista que também compunha e cantava. A primeira gravação de Ray que assombrou o público foi “Mess Around” (1953). E com a gravação “I Got a Woman” (1954), o Rhythm and Blues já sabia que Ray era diferente de tudo que se fazia naquele gênero de música dominado predominantemente pelos negros. Essa sua canção mesclava Rhythm and Blues (R&B), gospel e blues, sendo uma das músicas fundamentais à criação do nascente fenômeno chamado Rock’n’Roll. “I Got a Woman” atingiu o primeiro lugar da parada de sucessos exclusiva do R&B, colocação também alcançada pelas gravações de Ray Charles “A Fool for You”, “Mary Ann”, “Drown in my Own Tears” e “What’d I Say”, esta em 1959. Público, crítica e outros artistas se renderam à força rítmica de “What’d I Say”, verdadeira explosão sonora em meio à mesmice que havia se transformado o Rock’n’Roll. Além dos ingredientes comuns à música de Ray, essa contagiante gravação tinha ainda uma latinidade desconhecida na música do cantor-pianista. “What’d I Say” chegou ao 6.º posto do Billboard popular e não demoraria muito para Ray Charles dominar também esse segmento do hit parade.

Discos de Ray Charles nos tempos da Atlantic Records.

Sid Feller e Ray Charles durante
uma gravação.
A recém-formada gravadora ABC-Paramount pretendia ter um cast de artistas capaz de rivalizar com as gigantes RCA, Columbia e Capitol, tirando Ray Charles da Atlantic Records a peso de ouro em novembro de 1959. Já em seu primeiro ano na ABC-Paramount (1960) Ray Charles chegou ao 1.º lugar do Hit Parade com “Georgia on my Mind”, single que foi depois incluído no LP “The Genius Hits the Road”. Desse mesmo álbum chegou ao 1.º lugar em 1961 a esfuziante “Hit the Road Jack”. No Brasil Ray Charles fez relativo sucesso com “Stella by Starlight” e “Ruby”, ambas do álbum “Dedicated to You”, de 1961, que igualmente vendeu bem por aqui. Ray Charles já havia se firmado no cenário musical como artista do R&B e mesmo de jazz. Seu LP “Genius + Soul = Jazz” chegou ao 4.º lugar entre os mais vendidos da Billboard. Em 1962, através do produtor Sid Feller, foi proposto a Ray Charles gravar um álbum com canções country e western. Ray, que na infância ouvia muita música country nas rádios da Flórida onde vivia, aceitou o desafio. Quase que unanimemente Ray foi ‘alertado’ do inevitável fiasco que seria esse disco que contrariava as raízes musicais do pianista-cantor e que prejudicaria sua carreira. Foi quando Ray avisou que não cantaria no estilo Country e Western, mas sim levaria essas canções ao ‘Estilo Ray Charles’. Foram selecionadas 150 canções standards da música ‘caipira’ norte-americana, das quais Ray escolheu 12 para o álbum que recebeu o pomposo título ‘Modern Sounds in Country and Western Music’.

Long-plays de Ray Charles na ABC-Paramount que antecederam 'Modern Sounds'.

Gravado em fevereiro de 1962 nos estúdios da Capitol Records, o disco foi lançado em maio desse mesmo ano, aparecendo já no 10.º posto. Na semana seguinte ‘Modern Sounds’ pulou para a 2.ª colocação e em sua terceira semana atingiu o primeiro lugar, desbancando dessa colocação a trilha sonora musical do filme “West Side Story”. ‘Modern Sounds in Country and Western Music’ permaneceu em 1.º lugar entre os álbuns mais vendidos nos Estados Unidos por 14 semanas consecutivas, ficando entre os dez LPs mais vendidos por 33 semanas, ou seja, pelo resto do ano de 1962. O retumbante sucesso desse álbum fez com que, em setembro de 1962, Ray voltasse ao estúdio para novas gravações de outro disco que complementava ‘Modern Sounds’. Em novembro desse mesmo ano o novo álbum foi lançado com o título ‘Modern Sounds in Country and Western Music – Volume II’, que em seu lançamento apareceu já na 10.ª posição, chegando ao 4.º posto entre os mais vendidos. Esse segundo álbum, gravado no mesmo estilo do primeiro, é excepcional e não é exagero afirmar que supera bastante o anterior, ficando, no entanto, ‘apenas’ 15 semanas entre os dez mais vendidos nos Estados Unidos.

Contracapa da edição brasileira de 'Modern Sounds in Country and Western Music'.
No destaque a relação das canções, notando-se que "I Can't Stop Loving You"
era a penúltima canção do lado B, ou seja, ninguém apostava muito nela.

Don Gibson, autor de
"I Can't Stop Loving You".
Das 12 músicas selecionadas para o LP ‘Modern Sounds in Country and Western Music’, a que se destacou nas vendas como single (compacto-simples) foi “I Can’t Stop Loving You”. Essa canção foi composta e gravada em 1958 por Don Gibson, mas foi na versão de Ray Charles que alcançou estrondoso sucesso. “I Can’t Stop Loving You” apareceu direto em 18.º lugar entre as 100 gravações mais vendidas nos Estados Unidos em maio de 1962, pulando para a 1.ª colocação na segunda semana de seu lançamento nas lojas. “I Can’t Stop Loving You” ficou em primeiro lugar por cinco semanas, conquistando o Disco de Ouro por ter vendido mais de um milhão de cópias. Apenas em 1962 a venda total desse compacto atingiu um milhão e meio de cópias. No Reino Unido “I Can’t Stop Loving You” repetiu o fenômeno de vendas norte-americano, chegando igualmente ao primeiro lugar das paradas, o mesmo acontecendo no Brasil, onde a canção ficou várias semanas entre as mais vendidas. Os discos da ABC-Paramount eram lançados no Brasil pelo selo Polydor, da Companhia Brasileira de Discos, que retardou o quanto pode o lançamento do compacto simples com “I Can’t Stop Loving You”, forçando a venda do long-play ‘Modern Sounds in Country and Western Music’. Os lojistas cansavam de responder que o compacto-simples daquela música de Ray Charles ainda não havia sido lançado e com um sorriso maroto diziam: “Leva o long-play que vale à pena!” Don Gibson compôs "I Can't Stop Loving You" dentro de um trailler num dia de calor intenso. A canção ficou por muito tempo sem título pois Gibson não encontrava o título apropriado e que acabou sendo o primeiro verso da música.

No vídeo abaixo letra e música de "I Can't Stop Loving You" na voz de Ray Charles.



Ray Charles e The Raeletts.
Outra canção que vendeu bem em compacto (single), simultaneamente a “I Can’t Stop Loving You” foi “You Don’t Know Me”, ainda que tenha ficado longe do extraordinário sucesso da canção de Don Gibson. “You Don’t Know Me” havia feito sucesso originalmente na voz de Hank Williams e de autoria do mesmo Hank Williams, Ray Charles inseriu “You Win Again” e “Hey, Good Looking” no álbum ‘Modern Sounds in Country & Western Music’. No Volume II destacam-se os clássicos do Country & Western “Your Cheating Heart” (também de Hank Williams), “Take These Chains from my Heart” (sucesso original na voz de Hank Williams em 1952), “Making Believe” e “Oh, Lonesome Me”. A faixa “You Are My Sunshine” contou com a participação das ‘Realetts’, o quarteto vocal liderado por Margie Hendrix que acompanhava Ray Charles nas apresentações ao vivo, como a que ocorreu no Brasil em 1963. Nessa canção Margie ofusca o próprio Ray Charles com uma empolgante interpretação. As tradicionais canções Country & Western dos dois álbuns passaram a ser conhecidas (e admiradas) pelo grande público graças ao admirável trabalho de Ray Charles nesses dois álbuns históricos.

Ao centro apresentação de Ray Charles e Orquestra em São Paulo, em 1963.
Ray não está no piano e sim solando ao saxofone.

Ray Charles e Frank Sinatra, que
também gravou
"I Can't Stop Loving You".
Com produção de Sid Feller em parceria sem crédito do próprio Ray Charles, ‘Modern Sounds in Country and Western Music’ volume I contou com arranjos e condução da orquestra dos maestros Gerald Wilson e Gill Fuller. O maestro Marty Paich foi o responsável pelos arranjos das cordas e do coro. Porém foi mesmo Ray Charles quem reorientou os arranjos, tendo reescrito inteiramente alguns deles. Além de Don Gibson, também Kitty Wells e Roy Orbison haviam gravado “I Can’t Stop Loving You” antes de Ray Charles. Entre os muitos cantores e cantoras que posteriormente gravaram essa canção estão Elvis Presley, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Jerry Lee Lewis, Van Morrison, Conway Twitty, Ricky Nelson, Connie Francis, Andy Williams, solmon Burke, Jim Reeves e Tom Jones. Count Basie e Orquestra gravaram versão apenas instrumental em 1963. “I Can’t Stop Loving You” sem dúvida puxou as vendas do álbum ‘Modern Sounds in Country and Western Music’, disco relacionado em praticamente todas as listas de álbuns mais importantes da história da música norte-americana, sendo considerado um marco fonográfico. Mais que nenhum outro disco ‘Modern Sounds in Country and Western Music’ fez com que a discriminada e humilhada música Country & Western passasse a ser conhecida, admirada e gravada em todo o país pelos mais renomados artistas. Só mesmo um gênio como Ray Charles seria capaz de tal proeza.


O jovem Ray Charles, no auge da criatividade artística.

terça-feira, 3 de junho de 2014

“BREAKIN' UP IS HARD TO DO” - NEIL SEDAKA


Qual o mais impactante início de música da história do Rock (’n’ Roll)? Muitos dirão que é a introdução de “Satisfaction”, dos Rolling Stones; os beatlemaníacos não aceitarão outro começo melhor que não seja o de “Come Together”; fãs do The Who inconformados perguntarão sobre “Won’t Get Fooled Again”? E há tantos outros inícios de canções memoráveis como “Cocaine”, de J.J. Cale na versão de Eric Clapton; “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd e a pesadíssima “Smoke on the Water”, do Deep Purple que não podem ser esquecidas. No velho e bom rock ’n’ roll os mais antigos lembrarão da introdução composta por Chuck Berry para “Johnny B. Goode” ou da trepidante explosão inicial de “Pretty Woman”, de Roy Orbison. A esses célebres inícios de músicas pode-se juntar o graciosamente irresistível “Breakin' Up is Hard to Do”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield, canção que atingiu o primeiro lugar do hit parade norte-americano quando de seu lançamento em 1962.

No vídeo abaixo Neil Sedaka se apresenta em programa de televisão
em 1966 e canta seu maior sucesso, "Breakin' Up is Hard to Do".


Howard Greenfield, Neil Sedaka e
Connie Francis.
Parceria com o vizinho Howie - Neil Sedaka, descendente de judeus nascido no Brooklyn (N.Y.) e cujo nome verdadeiro é Neil Tzedakah, tornou-se conhecido em 1958 como o compositor de “Stupid Cupid”. Essa canção foi feita em parceria com seu vizinho Howie (Howard Greenfield), vizinho de Neil desde quando eram crianças e Neil aprendia piano num conservatório. O adolescente Neil fazia canções e o amigo da casa ao lado fazia as letras. A namorada de Neil, uma adolescente também judia chamada Carol Klein (mais tarde Carole King) incentivava e inspirava bastante o namorado. “Stupid Cupid” foi gravada por Connie Francis e se tornou a primeira música da dupla Sedaka-Greenfield a atingir as paradas de sucesso, vendendo mais no Reino Unido que nos Estados Unidos. No Brasil, em versão de Fred Jorge e com o título “Estúpido Cupido”, essa música lançou para o sucesso uma jovem cantora nascida em Campinas e criada em Taubaté chamada Celly Campello, adolescente que logo se tornaria a Rainha do Rock ’n’ Roll brasileiro.

Compacto simples de Celly Campello e seu primeiro grande sucesso; no centro Celly com
Neil Sedaka e o violonista é Theotônio Pavão (pai da cantora Meire Pavão);
à direita o compacto de Stupid Cupíd" com Connie Francis.

Carole King, a 'Carol' do sucesso
de Neil Sedaka.
Inspirado por Carole King - A dupla Sedaka e Greenfield não parava de compor e o pianista Neil decidiu que passaria a cantar suas composições, gravando “The Diary” que fez sucesso na Inglaterra e tocou pouco nos Estados Unidos. Mais uma vez o atento Fred Jorge fez uma versão chamada “O Diário” que foi gravada por Tony Campello, irmão de Celly e também por Carlos Gonzaga. Por aqui a gravação de Sedaka foi muito mais executada. Já conhecido como cantor-compositor, Neil Sedaka obteve sucesso com “Oh Carol”, que foi seguida por “Stairway to Heaven”, “Run, Samson Run”, “Calendar Devil”, “Little Devil” e “Happy Birthday Sweet Sixteen”. “Oh Carol” foi composta para Carol Klein e, como não poderia deixar de ser atingiu, o primeiro lugar da parada de sucessos mas na versão (de quem mais poderia ser?) de Fred Jorge cantada por Carlos Gonzaga. O primeiro LP de Neil Sedaka lançado no Brasil continha “Stupid Cupid”, “The Diary” e uma série de baladas românticas mescladas com rocks que Little Richard poderia cantar sem hesitar. “I Go Ape”, por exemplo, é um desses torpedos que não deixa ninguém ficar parado e merecia ser muito mais executada. Passado o impacto inicial desses êxitos musicais de Neil Sedaka, ele teria que esperar até 1962 para sentir o gosto do verdadeiro sucesso.

Tony Campello, que gravou diversas versões de canções de Neil Sedaka;
pôster da apresentação de Neil Sedaka na TV Record, em 1960;
capa do excepcional primeirolong-playing de Neil Sedaka que, infelizmente,
não contém o rock "No Vacancy", lado B de "Stupid Cupid".

Down, doo-be-doo-dow-down - Neil e Carole King já haviam deixado de ser namorados há bastante tempo e em 1962, aos 23 anos, Sedaka se casou com Leba Strassberg. Casadinho de novo ele tinha uma frase na cabeça: “Breakin' up is hard to do”, mas não conseguia desenvolver a melodia. Desta vez o parceiro Howard Greenfield não se entusiasmou muito em fazer uma letra com aquele tema, mas acabou atendendo Sedaka e a nova música ficou logo pronta. Isto é, quase pronta. Na véspera do dia da gravação Neil não conseguiu dormir pois sabia que faltava alguma coisa para aquela canção. E o insone Sedaka teve a ideia genial. Nem bem amanheceu o dia e Neil ligou para a RCA Victor pedindo ao arranjador Allan Lorber para começar a canção com o fraseado musical ‘Down doo-be-doo-down-down, comma, comma down...’. Lorber percebeu o grande achado de Neil e quando o cantor chegou ao estúdio para a gravação, às 12h30, estava tudo pronto e do jeito que Neil imaginara. Participaram da gravação na RCA Victor os guitarristas Al Casamenti, Art Ryerson e Charles Macy; Ernie Hayes tocou piano e George Duvivier tocou contrabaixo; Gary Chester foi o baterista, e a percussão ficou a cargo de George Devens e Phil Kraus, enquanto Artie Kaplan tocou saxofone. As cordas ficaram a cargo de Seymour Barab e Morris Stonzek (celos) e David Gulliet, Joseph H. Haber, Harry Kohon, David Sakson e Louis Stone (violinos). O coral foi feito pelo grupo vocal The Cookies. A canção recebeu o título “Breakin' up is Hard to Do”.

Greenfield e Sedaka assinando contrato com Don Kirschner; no centro as cantoras
do The Cookies, que fazem o backing vocal de "Breakin' Up is Hard to Do";
o casal Leba e Neil Sedaka ainda jovens.

Neil e Leba: casados
há 52 anos.
Number One, Neil! - Que a nova canção de Sedaka-Greenfield tinha potencial para o sucesso todos na RCA Victor perceberam assim que ouviram o ‘demo’. E a gravadora decidiu trabalhar com carinho o novo disco junto aos DJs. Mas nem havia necessidade disso! Qualquer pessoa que ouvisse apenas uma vez a introdução de “Breakin' up is Hard to Do” não iria esquecê-lo tão facilmente. Lançada em junho de 1961 a gravação apareceu logo em 13.º lugar na Billboard e na semana seguinte já estava em 1.º lugar, posição em que permaneceu por duas semanas, destronando o megahit “I Can’t Stop Loving You” do ‘The Genius’ Ray Charles. Neil Sedaka se encontrava em excursão pela Inglaterra, apresentando-se no London Palladium quando recebeu um telegrama de sua esposa Leba contando que “Breakin' up is Hard to Do” estava tocando no país inteiro. Não demorou e chega outro telegrama dizendo apenas: “Number One, Neil!”

Um Neil maduro.
Irresistível refrão - “Breaking up is Hard to Do” foi descrita pela ‘Allmusic’ (Bíblia da música norte-americana, hoje também em site) como “Dois minutos e dezesseis segundo de pura magia pop”. A alegria contagiante da canção se apossa de quem a escuta e a letra e melodia fáceis de serem cantadas não permitem que jamais Neil cante sozinho, mas sim acompanhado pelo(s) ouvinte(s). O arranjo de Allan Lorber deu um saboroso balanço à canção que parece nunca parar de crescer até que retorna ao irresistível refrão. “Breaking up is Hard to Do”, mais que qualquer outra canção é o próprio retrato musical de Neil Sedaka, artista sempre feliz, radiante e transmitindo isso a quem o assiste. Muitos outros artistas gravaram versões de “Breakin' up is Hard to Do”, merecendo ser lembrados Carole King, Tom Jones, Little Eva, Paul Anka, Andy Williams, The Four Seasons, Eydie Gourmet, Gloria Stefan, The Carpenters e Dee-Dee Sharp. Sylvie Vartan gravou uma versão em Francês com o título “Moi Je Pense Encore a Toi”.

CANTE JUNTO COM NEIL SEDAKA
Abaixo vídeo com a letra de "Breakin' up is Hard to Do"


Ainda em plena atividade - Neil Sedaka foi dos raros artistas que conseguiu retornar ao 1.º lugar do Billboard duas décadas depois e isso ocorreu com “Laughter in the Rain” em fevereiro de 1975. Aos 76 anos de idade e com quase 60 anos de carreira (e 52 de casamento com Leba) Neil Sedaka continua se apresentando pelo mundo e relembrando seus grandes sucessos, nunca deixando de levantar o público com a alegria de “Breakin' up is Hard to Do”.

Neil Sedaka em apresentação em 2009.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

“ALL I HAVE TO DO IS DREAM” – THE EVERLY BROTHERS


Certa vez John Lennon disse que os Beatles deveriam se chamar The Foreverly Brothers devido à influência recebida da dupla norte-americana The Everly Brothers. E não foram só os Beatles que sofreram influência no modo de cantar e tocar dos irmãos Don e Phil Everly. Outros grupos que tiveram The Everly Brothers como modelo de cantar foram The Byrds, The Eagles, Gram Parsons, influência que se estendeu até os Bee Gees. Simon & Garfunkel confessaram que a dupla só existiu porque ouviram muito os irmãos Everly, a quem homenagearam cantando diversos hits gravados nos anos 50. Um dos maiores sucessos do The Everly Brothers e do ano de 1958 foi “All I Have To Do Is Dream”, que resultou num Golden Record para a dupla. [Assista o vídeo abaixo]



Phil e Don Everly
Sucesso desde o início da carreira - Ex-meninos prodígios, filhos de pais músicos e cantores (e primos do ator James Best), os irmãos Phil e Don Everly foram lançados pela pequena gravadora Cadence, de propriedade de Archie Bleyer. Após contratá-los, Bleyer praticamente os obrigou a gravar uma canção que havia sido rejeitada por mais de 30 artistas, entre eles Elvis Presley. A música se chamava “Bye Bye Love”, de autoria do casal de compositores Felice e Boudleaux Bryant e a animada gravação do The Everly Brothers fez sucesso nas paradas, chegando ao segundo posto do hit parade em julho de 1957, isto porque Elvis dominava inteiramente a lista dos discos mais vendidos. Quando o Rei do Rock parou para respirar a dupla The Everly Brothers chegou ao primeiro posto por uma semana, em outubro de 1957, com “Wake Up Little Susie”. Essa canção, também de autoria de Felice e Boudleaux Bryant só não vendeu mais por ter sido proibida em alguns Estados que entenderam que havia sentido malicioso quando o rapaz pedia a Susie para ela se acordar, como se estivessem dormindo juntos. Que tempos aqueles, heim! As composições do casal Bryant pareciam ser feitas para as vozes e estilo do The Everly Brothers e de fato eram. E o grande sucesso veio em maio de 1958 com “All I Have To Do Is Dream”, também dos Bryant, gravação que permaneceu durante meses entre as mais vendidas e durante quatro semanas em primeiro lugar.

Acima Felice e Beaudleaux Bryant;
abaixo selos do 78' e do 45'.
Encontro com o casal Bryant - Entre as composições de Felice (cujo verdadeiro nome era Matilda) e Boudleaux Bryant gravadas pelos irmãos Everly estão sucessos como “Problems”, “Take a Message to Mary”, “Bird Dog”, “Devoted to You” e “Love Hurts”. Porém foi com “All I Have To Do Is Dream” que Don e Phil atingiram o momento mais poético de seu repertório ao cantar a tristeza do apaixonado que só pode sonhar com sua amada enquanto vê a vida passar. As vozes bonitas dos irmãos em perfeita harmonia, sendo a de Don a mais alta (barítono) e a de Phil a mais baixa (tenor) encantaram e fizeram sonhar os jovens enamorados daqueles anos finais da década de 50. Além de cantar excepcionalmente bem, os irmãos eram exímios guitarristas e criaram um estilo que só não pode ser chamado de inimitável porque foram por demais imitados. E falando em grandes guitarristas, talvez o maior daquela época tenha sido Chet Atkins que participou da gravação de “All I Have To Do Is Dream” realizada no dia 6 de março de 1958. Foram necessários apenas dois takes para realizar a gravação tal o entrosamento dos irmãos. Essa composição dos Bryant foi lançada em discos 45 e 78 rotações que ainda eram vendidos. Após ser lançada, em maio, ocorreu aquilo que pouquíssimos cantores conseguiam, ou seja, “All I Have To Do Is Dream” não precisou escalar gradativamente o Billboard uma vez que apareceu na parada já em primeiríssimo lugar. E não era para menos pois do lado B daquele compacto simples tinha “Claudette”, composição de Roy Orbison. E no Reino Unido “All I Have To Do Is Dream” atingiu também o primeiro lugar onde permaneceu por seis semanas.

Os Everlys, uma família musical; abaixo Ike e Margareth Everly; acima à direita
Don Everly, o produtor Wesley Rose, Beaudleaux Bryant e Phil Everly; abaixo Chet Atkins.

Inúmeras regravações - A lista de regravações de “All I Have To Do Is Dream” é enorme, merecendo lembrar que a canção foi gravada por Richard Chamberlain, The Nitty Gritty Band, Roy Orbison, R.E.M., Dwight Yoakam e Elvis Costello, entre outros. Música preferida para ser cantada por duplas, “All I Have To Do Is Dream” foi gravada também por Bobbie Gentry-Glenn Campbell, Andy Gibb-Victoria Principal, Linda Ronstad-Kermit the Frog e Jeff Bridges-Karen Allen. Com todo respeito a esses talentosos artistas, nenhum deles superou o original que teve arranjo simples e delicado como a própria canção. Phil Everly regravou “All I Have To Do Is Dream” em dupla com o inglês Cliff Richard em 1994, gravação essa que atingiu o 14.º posto do hit parade britânico.

Calma, rapazes...
A separação - Durante um show realizado em Hollywood, em 1973, Don Everly apareceu bêbado para cantar, errando as letras e acordes das canções, até que Phil num momento de nervosismo quebrou seu violão na cabeça do irmão. Passaram dez anos sem se falar, o que só aconteceu por ocasião do funeral de Ike Everly, o pai de Phil e Don. Após esse reencontro a dupla participou de tournée apropriadamente chamada “The Everly Brothers Reunion Concert”. O show no Albert Hall, em Londres, foi filmado e transformado em DVD e CD. Após se separarem, os irmãos tentaram carreiras solo e o mais bem sucedido foi Phil Everly que gravou “Everytime You Leave” em dueto com Emmylou Harris e o álbum ‘Phil Everly’, acompanhado por Mark Knopfler. No filme “Doido para Brigar, Louco para Amar”, estrelado por Clint Eastwood, Phil canta em dueto com Sondra Locke a canção “Don’t Say You Don’t Love no More”, de autoria do próprio Phil. Para a sequência desse filme de Clint, que se chamou “Punhos de Aço”, Phil Everly pode ser visto no palco atrás de Sondra Locke quando esta canta “One Too Many Women in Your Life”, também de autoria de Phil.

Legado musical - Isaac Donald Everly (Don) nasceu em 1937 e Phillip Everly (Phil) em 1939 e como dupla The Everly Brothers entrou para o Hall da Fama do Rock and Roll, sendo introduzidos na cerimônia nada menos que por Neil Young, um dos maiores nomes de todos os tempos do Rock. Em 1997 os irmãos Everly receberam o prêmio Grammy Lifetime Achievement Award pela extraordinária contribuição que deram à música. Em 2001 Don e Phil foram introduzidos no Country Music Hall of Fame pela pioneira contribuição que deram ao Rock-a-billy. Esses importantes prêmios representam um justo reconhecimento pela produção artística do The Everly Brothers e pela influência que legaram à música no século passado. E nada melhor que ouvir as 26 canções da dupla que ficaram entre as mais vendidas (Top 40) através dos anos, especialmente a Golden Record “All I Have To Do Is Dream”.



ALL I HAVE TO DO IS DREAM
(Beaudleaux e Bryant)

Dream, dream, dream, dream, dream, dream, dream
When I want you / In my arms
When I want you / And all your charms
Whenever I want you all I have to do is dream...
          When I feel blue / In the night
          And I need you to hold me tight
          Whenever I want you
          All I have to do is dream...
I can make you mine / Taste your lips of wine
Any time / Night or day
Only trouble is / Gee whiz
Im dreaming my life away
          I need you so / That I could die
          I love you so / And that is why
          Whenever I want you all I have to do is dream...
I can make you mine / Taste your lips of wine
Any time / Night or day
Only trouble is / Gee whiz
Im dreaming my life away
          I need you so / That I could die
          I love you so / And that is why
          Whenever I want you all I have to do is dream...



Listas do Hit Parade norte-americano nos meses de abril, maio e junho de 1958.
Nota-se que "All I Have to do Is Dream" entrou na lista já em primeiro lugar.

No Reino Unido, "All I Have to do Is Dream" atingiu o primeiro posto do Hit Parade em
julho de 1958, permanecendo em primeiro lugar em agosto e caindo para 6.º em setembro.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

“EVERYBODY LOVES SOMEBODY” – DEAN MARTIN


Em 1964 ocorreu o fenômeno ‘The Beatles’ no Hit Parade norte-americano e o quarteto de Liverpool emplacava um sucesso atrás do outro. O primeiro foi “I Want to Hold Your Hand”, que ficou sete semanas em 1.º lugar. Quando uma música dos Beatles deixava o primeiro posto logo surgia outra para ocupar aquela posição nas paradas. Foi assim com “She Loves You”, “Can’t Buy me Love”, “Love me Do” e “A Hard Day’s Night”. Cantores românticos como Bing Crosby, Tony Bennett, Frank Sinatra, Perry Como, Andy Williams e Dean Martin pareciam ultrapassados e condenados aos palcos de Las Vegas se quisessem sobreviver pois seus discos vendiam cada vez menos. O mercado consumidor era cada vez mais dominado por jovens alucinados pela música dos Beatles, sobrando espaço ainda para outros grupos ingleses como The Dave Clark Five, Animals, Billy J. Kramer, Manfred Mann, The Searchers (também de Liverpoll), os afilhados dos Beatles Peter & Gordon e até cantoras como Dusty Springfield. Surpreendentemente, quem destronaria os Beatles por uma semana seria um daqueles cantores fora de moda chamado Dean Martin.

Dean Martin era cantor e formara nos anos 40 uma dupla com Jerry Lewis que causava sensação no show-business. Levados para Hollywood seus filmes se tornaram enormes sucessos, até que em 1956 decidiram se separar. Como o engraçado da dupla era Jerry Lewis, não faltou quem dissesse que a carreira de Dean Martin como ator estava encerrada. Jerry Lewis passou a fazer sucesso sozinho e Dean Martin, ao contrário do que se suspeitava, provou ser bom ator dramático. Isso ocorreu em filmes como “Os Deuses Vencidos” (ao lado de Marlon Brando e Montgomery Clift), “Deus Sabe Quanto Amei” (com Frank Sinatra) e principalmente em “Onde Começa o Inferno” (com John Wayne). Quando a propalada genialidade de Jerry Lewis deixou de existir e ninguém mais queria ver suas comédias, Dean Martin estrelava de dois a três filmes por ano. Martin que não levava nada a sério, nem a si mesmo, chegou até interpretar um agente secreto (Matt Helm) aproveitando o filão aberto por James Bond. Se a carreira de ator de Dean Martin ia bastante bem, o mesmo não se pode dizer dele como cantor.

Dean e Jerry Lewis; à direita Montgomery Clift, Marlon Brando e Dean Martin
 durante as filmagens de "Os Deuses Vencidos".

Bing Crosby e Dean Martin
Descendente de italianos (seu nome verdadeiro era Dino Paul Crocetti), Dean Martin foi um dos grandes vendedores de discos dos anos 50, emplacando numerosos sucessos como “You Belong to Me”, “Return to Me”, “Volare” e principalmente “That’s Amore” (1953) e “Memories Are Made of This” (1955), estas duas últimas tendo alcançado a 1.ª posição nas listas das mais vendidas. Dean Martin, assim como praticamente todos os cantores que começaram a cantar nos anos 30 e 40, foi influenciado por Bing Crosby. Poucos porém conseguiram assimilar aquele jeito casual de dizer o fraseado musical de Crosby como Dean Martin. Talvez até porque na vida real Dino era assim mesmo, parecendo não levar nada a sério mas fazendo tudo com perfeição e profissionalismo. Com sua voz melodiosa Dean Martin se especializou em cantar canções que falavam das coisas da Itália, mas bastante eclético Dino agradava cantando músicas country como “Rio Bravo”, tema do western “Onde Começa o Inferno”. Mas jamais Dean Martin se afastou do cancioneiro clássico norte-americano, na linha de Frank Sinatra, de quem se tornou amigo inseparável.

Em 1962 Frank Sinatra fundou sua própria gravadora, a Reprise Records e Dean Martin deixou a Capitol onde estava há vários anos, passando para a gravadora do amigo Sinatra. Embora gravando regularmente os LPs de Dean Martin tinham vendas modestas sendo destinados às coleções daqueles fãs verdadeiros da boa música norte-americana. Em 1964 Dean Martin gravou o LP “Dream With Dean”, composto por aquelas canções que ele costumava cantar com grande agrado nos night-clubs. Dino já havia gravado onze músicas, faltando a 12.ª para completar o álbum, cujo condutor da orquestra era o pianista-maestro-arranjador Ken Lane. Também compositor, Ken Lane disse a Dino para gravar “Everybody Loves Somebody”, aquela canção que Lane havia composto em parceria com Irving Taylor em 1949, quando trabalhava com Frank Sinatra. Por sinal o ‘The Voice’ foi o primeiro cantor a gravar “Everybody Loves Somebody”, sendo seguido depois por Peggy Lee, Dinah Washington e outros artistas. Porém nenhum deles conseguiu tornar a música um sucesso. “Everybody Loves Somebody” era originalmente uma canção de andamento romântico e, diferentemente das gravações anteriores, Dean Martin adaptou a canção para seu estilo mais descontraído e como era uma gravação para completar um disco percebe-se que Dino está mais solto e à vontade que nunca nessa interpretação. Ele mesmo acreditava que ninguém levasse “Everybody Loves Somebody” a sério.



A Reprise Records por sua vez não fez nenhum esforço para promover “Everybody Loves Somebody” que, por um desses mistérios do mercado fonográfico, começou a ser executada por algumas rádios. Primeiro em New Orleans, depois em Worcester (Massachussets) e daí foi se espalhando e sendo cada vez mais pedida. Percebendo a possibilidade de moderado sucesso, a Reprise lançou um compacto simples com “Everybody Loves Somebody”, disco que apareceu pela primeira vez entre as 100 mais vendidas em 72.º lugar, em 27/06/64. O novo sucesso dos Beatles era “A Hard Day’s Night”, música-título do primeiro filme do The Fab Four. E o que parecia impossível aconteceu quando galgando pouco a pouco as posições principais do Hit Parade, “Everybody Loves Somebody” atingiu o 1.º lugar como música mais vendida na semana de 15 de agosto de 1964. Dean Martin voltava a conhecer o sabor de um verdadeiro sucesso musical e numa situação totalmente adversa que se rendeu a seu talento.

Com o sucesso de “Everybody Loves Somebody”, pensou-se logo em produzir um show semanal de televisão, o “The Dean Martin Show”, cujo tema musical era justamente “Everybody Loves Somebody”. O programa de TV que parecia ter sido produzido apenas para aproveitar o momentâneo sucesso musical de Dean Martin agradou em cheio e revelou-se o talento de apresentador do ator-cantor. Ken Lane foi o responsável pela parte musical do “The Dean Martin Show” que permaneceu por nove temporadas no ar (1965-1974) e Martin em alguns anos foi o artista que mais dinheiro ganhava no show-business com a venda de seus discos, apresentações em Las Vegas e em casa noturnas, filmes e seu programa de televisão. Nem Frank Sinatra ganhava tanto como Dean Martin, o que em nada mudava o estilo bon vivant de quem não levava nada a sério do ex-boxeador Kid Crochet, ele mesmo, Dean Martin. Sucesso de vendas também na Inglaterra e no Canadá (e mesmo no Brasil), “Everybody Loves Somebody” se tornou uma espécie de marca registrada de Dean Martin, rendendo mais um Golden Records a esse que foi um dos maiores artistas norte-americanos do século 20.


A abertura do "The Dean Martin Show"; Dean com Ken Lane ao piano;
Dean Martin e John Wayne num momento antológico da televisão interpretando
"Everybody Loves Somebody" que pode ser assistido no vídeo abaixo.